As cartas de amor
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Sentei-me com intuito de te dar uma carta de amor. Aquela que você diz nunca ter recebido ou escrito. Passou intacto do grotesco do romantismo abrigando-se na desculpa de não saber escrever.
Eu também tenho medo do ridículo. O romântico em mim está dormente, estragado pela necessidade de ser sempre forte e viver num mundo sem tempo para afeiçoar-se a nada. Se pudesse rebentaria de amor pelo mundo no ridículo de amar mais do que posso.
Contudo, eu sento e tento te escrever esta carta, ignoro minha insuficiência romântica e o medo do ridículo para então te dizer:
Tenho em você todos os sonhos do mundo. Desde a primeira xícara de café até o copo de água da meia noite, você está aqui.
Sinto, de você, toda saudade possível e imensurável. Desde o momento que me deixa até o que volta.
Claro que deveria ser uma carta feliz com os diminutos rituais do namoro, mas sinto, às vezes, que a cada abraço te perco, como se escorresse por entre meus braços, beijos e dedos. Então me faço triste e calada por não saber te reter no meu mundo sem que se transforme em pó e suma da humanidade. Nesses momentos me envieso entre o ciúme e a paixão, não raro vou de encontro a raiva e dou tudo por perdido até que volte das cinzas e me resgate.
A cada abismo, temos uma vaidade desnecessária de sempre perguntar as qualidades um do outro. Eu poderia te lisonjear com inúmeros e saborosos elogios, como fiz diversas vezes. Mas somos pessoas, imperfeitas e amedrontadas pela solidão de profundos abismos e ausências irreparáveis, porém e, sobretudo, eu te amo.
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