Lucidez
Maldita de você que apareceu numa parte ruim da minha vida.
Pra estragar com tudo que eu tinha feito pra chegar até aqui.
Jogou fora todas as minhas latinhas, todas as minhas pílulas,
meus chás, ervas etc, e tal.
As agulhas, meu cinzeiro, querido companheiro,
sou sincéro quase me descabelo, ao lenbrar que no ralo foi parar,
meus destilados, meu whiskey barato.
Meu escuro quarto.
Você veio sem dó nem piedade, baniu com minha própria idade,
rasgou minhas receitas, meus livros de ceitas, meu alcool paraguaio.
Meu zippo à lenha, minha colher com cabo de osso, minha lâmina da gillete, meu pano de guardar confeti, meu espelho predileto.
Ó saco de pó mágico, trágico fim levou,
me tomou minha mentira, minha ira, minha benzina,
queimou meus papéis, o tabaco, pro lixo foi meu perfume,
minha goma de mascar, meu almiscar.
Minha cabeça dói, devaneios, tremedeiras, se foi minha carreira.
Deprimido sem meus comprimidos, sem meu canto de encanto,
Sem cafofo de sufoco, recaido, desamortecido...
Você comeu meu mundo, me tirou a insânidade, minha privacidade,
Tenho enlouquecido, fantasmas me perseguindo.
Lembrando o esquecido, a expressão do último beijo.
Meu único desejo.
Você como o vento dissipou minha fumaça, evaporou minha cachaça,
dores sem meus licores, intriseco temor.
Sumiu com meus ematomas, sicatrizes...
Aparentes só restaram as da alma, da mente que cala e concente.
Conciente você me deixou.
Arrependida você volta pra mim, e comigo quer ficar.
Sóbria realidade, cruel verdade.