Carta Para Alguém Secreto

Aqui mesmo, 24 de maio de 2011.

Bom dia. Espero que esteja tudo certo contigo agora ou quando ler minha carta.

Eu? Vou levando como posso. Só queria lhe relatar algo que brotou em meu coração algum tempo atrás. Talvez não seja tão interessante para você, por isso você se tornou secreta e “eu” tímido demais.

A primeira vez que nos vimos e nos conhecemos bebemos pouco, o pagode rolava solto e eu não pude deixar de notar sua beleza e feminilidade marcantes. Logo depois observei a simpatia. Juro que fiquei encantado. Dentro de mim brotaram mil pensamentos positivos e eu não sou o tipo de pessoa que tem sonhos ou pensamentos positivos. Talvez foram os seus olhos ou seus sorrisos ledos que me encantaram.

Aquela balada se passou e eu fiquei pensando dias a fio naqueles instantes marcantes para mim. Imaginei um namoro: eu me tornava o cara mais certo do mundo, o mais romântico e dedicado, enquanto você se tornava uma mulher amável e companheira para mim sendo assim muito feliz. Veja bem: quando digo mulher digo namorada, porque não se casa de uma hora para outra. Só foi força de expressão rsrsrs.

Mas, os dias foram se passando e aqueles momentos doces começaram a desaparecer aos poucos da minha mente de modo que, parecia que eu tinha me esquecido completamente de você. Talvez esse esquecimento fosse uma atitude de autodefesa do meu coração, este coração machucado, torturado por amores pretéritos, onde prefiro não entrar neste assunto aqui nesta missiva.

Hoje quando eu lhe vi de salto alto, calças jeans, blusinha, com seus típicos cabelos de fogo e aquele sorriso encantador e me desfiz por dentro. Ou me refiz? Nem sei dizer direito. O que sei é que meus sonhos voltaram com mais intensidade. Porque eu me vi como um adolescente apaixonado pela garota mais linda do colégio e eu sou o garotinho sem muita expressão que ela nunca irá olhar com outros olhos senão um mero “fulaninho da classe tal”.

Assistimos a um filme juntamente com nossos amigos e a incumbência de levá-la para casa, porque já era madrugada, como um verdadeiro protetor sobrou para mim. Senti-me nas nuvens, final de contas teria mais tempo para ficar conversando contigo. Ao mesmo tempo em que a felicidade brotava a minha timidez evoluía também. É claro que você irá dizer “você, tímido? Nunca!”, mas esta é a verdade, pois se reparar em todos os assuntos que conversamos nem um deles foi o que realmente estava em meu coração. Sinto-me um tolo por isso, porque talvez tenha perdido minha única chance de dizer o que sinto. Por isso confesso que fui covarde e um verdadeiro tolo. Vejo, neste momento, que não era para eu ter sido, porque não me interessava a sua resposta negativa. Afinal eu estaria dizendo de meu desejo. Sobretudo, tenho um por quê. Diria que perder três amores, sofrer muito por eles e não ter ajuda de nenhum deles nos momentos de dor me deixou sem confiança e com a auto-estima muito baixa. Ter uma resposta negativa seria mais frustrante ainda para mim no momento.

Vê-la sorridente, extrovertida e animada me alegrou muito, mas vendo a bendita lua ofuscada pelas nuvens acinzentadas no céu lúgubre me pareceu mau presságio. Senti-me acuado e com medo de não receber a positividade vinda de você. Então, me fechei em meu mundo na esperança de que o destino ainda me possa ser genreroso.

Talvez eu seja só mais um cara engraçado que não tem “tempo ruim”. Mas eu não sou assim. Sou um alguém cheio de defeitos, sôfrego e carente como muitos outros são. Seu sorriso com certeza me tiraria desta melancolia. Agora eu ir pedi-lo? Ah, não, por favor! Não peça isso. Sou do tipo que demonstra a vontade do íntimo da alma nas mínimas coisas. Repare quando eu quis lhe proteger nos caminhos pedregosos, pedindo para que segurasse e se apoiasse em meu braço pelo fato de você estar usando aquele salto alto voluptuoso. Era a proteção que eu podia lhe oferecer, parte do cuidado que teria contigo se me desse uma chance. É que eu sou assim mesmo: protetor.

E, cá entre nós: conheceríamos mundos diferentes juntos. Eu me abriria para você como as flores na primavera. Daria minha proteção e faria de tudo para não machucá-la, porque sei o que é ser machucado e tenho certeza que você faria o mesmo com o decorrer do tempo e seríamos felizes... Felizes... Esta palavra no plural chega a me doer o coração. Mas, deixe pra lá, vai passar.

A sua casa foi cada vez mais se aproximando assim como o meu medo aumentando. Tremi por dentro. Nenhuma palavra saiu. Onde estava aquele cara que sabia falar com eloqüência, aquele verdadeiro retórico de classe? Que droga! Um beijo no rosto, tchau e a gente se virou de costas. Eu fiquei olhando seu caminhar feminino e deixei a cena penetrar em minha mente: o rebolar voluptuoso que não era vulgar, mas sim por causa do salto alto, a cintura de pilão, os cabelos de fogo sendo jogados de um lado para o outro, enquanto você não se virou nem sequer uma vez para sorrir novamente para mim. Abaixei minha cabeça e fui seguindo o meu destino com aquele aperto no peito, um aperto de quem perdeu. Ora! Eu nem lhe tenho para sentir tal coisa. O certo é que não demonstrei com mais precisão meu desejo.

Não estou querendo lhe colocar nas nuvens, mas em meus sonhos você era o antídoto para minha dor e solidão, o caminho seguro para felicidade que com certeza não iria perder por qualquer leviandade efêmera.

Gosto muito de você... secretamente.

4h50

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 24/04/2011
Código do texto: T2927300
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.