Pelas portas da droga, entrei. Pelo suicídio, sai...
A última imagem é de um horizonte se fechando diante dos meus olhos.
Ao acordar, uma dormência do corpo, contrastava com o olhar turvo que nada reconhecia ou conseguiria ver.
Tentei erguer o corpo, em vão. Sentia-me grudado ao chão, que de tão frio, gelara o meu rosto. Nada via nada sentia, a não ser a brisa fria.
Ouvia vozes e passos ao meu redor. Gemidos de dor, choro desesperado, um ranger repetitivo e voraz.
O grito de socorro que quis dar, não saia. E a dor em mim não diminuía. Era latente, repetitiva e pertinente.
Um cheiro pútrido dos transeuntes, náusea me. Este cinza em contraste com os vultos em minha volta lembra-me um circo de horrores. Descrever seria impossível, palavras me faltariam.
Não sei dizer quanto tempo lá fiquei. Fome, sede e dor. Desesperado e sem esperança, chorava copiosamente.
Refiz mentalmente o meu trajeto. Notei que não vivera feliz, e muito menos fizera pessoas felizes. Fui negligente e infiel aos meus princípios. Estes, herdados de pais atenciosos e prestimosos.
Da droga fiz meu passatempo. Da corrupção de minha alma, o meu cárcere. Matei todos os dias de minha breve existência, a esperança e amor, que em mim depositaram.
Findei covardemente, pelas portas funestas, do suicídio. A ilusão eu tinha de findar o sofrimento, tanto meu quanto o alheio. Ah, como fui tolo.
Por agora minha alma apregoada ao chão, impossibilitando-me até de andar. Sequer rastejar. Pois minha culpa pesa mais do que o planeta Terra.
Apesar de ateu, recorri á oração feita de peito aberto e roguei aos bons de Espírito, o perdão pela falta cometida. Em meio á lágrimas abundantes, uma chuva de luz ao meu lado. Fiz ver mãos brilhantes e bondosas tirar-me do lamaçal que mantinha meu corpo, pensava eu, grudado ao chão. Foi quando vi com olhos marejados, que apesar de morto, vivo continuava. Porém, dilacerada estava minha alma. Ferida e pútrida.
Levado á um posto de socorro, fui cuidado e tornei consciente da condição de condenado por mim mesmo.
Passado muito tempo desde então, preparo-me agora pra reencarnar. Com a bênção de quem espera poder voltar vitorioso, das próprias mazelas que um dia cometi. Levo como bagagem o amor dos socorristas e a confiança na Providência Maior. E lá vou eu, lançado novamente ao berço de resgate.
Autor Desconhecido