Carta VII
Silêncio é ainda poder não pensar com a rigidez das coisas prontas.
Eu sinto que abril ainda floesce, ainda chove de fazer silêncios, desses que tocam nosso telhado "brasilite", abril ainda se abre e desabre em novas flores de dar em pedra, em pau, em lama, em chão duro de andar a gente. Abril floresce fora de estação.
Tem dias que o dia não acaba nunca e eu digo com meu olhar parado, bem hoje estava bom pra morrer, mas é que tem que a gente não morre não, e ainda tem que viver muito pra passar essa noite toda, todinha, inteira de sonhar ainda muito.
Ah, ficar olhando parada sentada na praça brincando de silêncio correndo solto no corpo verde da grama do meu chão despalavrado. Cantar borboletas amarelas na pedra de fazer alamedas com flores vermelhas, levar susto de o sapo sair da poça, e sorrir de ver o gato de espriguiçando na tarde do varal do mundo.
A minha gata me lambe a infância, e as feridas que davam de brincar no terreno do matagal espinhento. A igreja ao alto, o sino tocava, e o mato crescendo, crescendo, vezoutra punham fogo no verde todo que a rua a tarde o morro choravam cinza.
Eu queria levar para casa todas as flores que eu vi, mas não tenho coragem, acho que elas devem lá ficar, não devo possuí-las, arrancá-las, elas devem murchar sem que caiam antes, sem que se firam. Então, eu vejo mesmo que abril bem capaz de florescer ainda bem muito, com toda chuva com toda seca com toda surpresa com toda moleza de chão barrento. Certeza não tenho que num sou besta e a planta do pé não deixa, mas cá pra nós, abril ainda vai dar muito o que ver_de! Ver de ficar assim com os olhos em susto de alegria besta, de arregalar as narinas e cheirar as cores da lagoa e do rio aos domingos no centro da cidade, da ponte cortando o céu atravessando passarinhos gatos lagartos e tamanduás. Bocas lançando flores n'água que viram barcos de levar e trazer peixes de sol lá do horizonte depois da ponte. Brincar de silêncio é assim perfumar imagens, brincar de caçar silêncio e fotografar o som da Vida.