Insonia Recorrente
Certa noite, eu não podia dormir, por mais que tentasse, por mais que fechasse os olhos. Não havia sossego em minha mente. Todas as palavras que eu ouvira durante o dia se digladiavam em uma cacofonia absurda. Ativavam-me os sentidos, deixavam-me irrequieto, roubavam-me o sossego.
Naquela mesma noite, abri uma garrafa de vodka e bebi. Bebi por que não dormia, e não dormia por que algo me faltava. Eu queria amar, queria de volta o que havia perdido, e por aquilo tudo eu me sentia velho.
Olhava no espelho e mal acreditava no que eu via. Um rosto infamiliar, outra pessoa.
Na minha cama, uma imensidão vazia, eu quase me afogava, como se meu lençol azul fosse um oceano. Alí, o frio que eu sentia e que aos poucos ia me matando era a única coisa que me lembrava que eu era ainda humano.
Um quarto de século eu tinha vivido mas sentia o peso de cem anos.
Faltava-me o vigor da juventude, faltava-me a sabedoria da velhice.
Como um jovem eu desejava, como um velho eu fenecia.
Diante de um papel em branco eu esperava uma inspiração que vinha aos poucos e me tomava sem aviso. Enquanto minha mão trabalhava convulsivamente, eu pensava na mulher para quem escrevia. Cada letra que eu vomitava, cada sílaba, cada palavra, ela jamais ouviria.
Ao fim, faltava-me coragem para reler aquilo tudo, e por isso eu lancei meus versos ao fogo esperando que a fumaça levasse para longe aquela amálgama monocromática de agonia, esperança e saudade de “não-sei-o-quê”.
Aquela noite eu desejei que a missiva que eu escrevera
Sem destino... Efêmera, como um cigarro.
Pudesse além de me satisfazer-me brevemente um vício, pudesse fazer-te entender o que eu sentia.
Pudesse te fazer sentir o calor dos sonetos que eu concebera
da paixão que dos teus lábios eu ainda não sorvera
Razão única e fatal
Da insônia que me afligia.