Virgínia, doce desvirginada.
Perdoe-me senhora, mas não pude deixar de notar sua beleza espalmada nessa face rósea. Perdoe-me novamente, sei que tenho idade pra ser teu neto ou filho, mas saltita meu coração e tremulam minhas carnes todas as vezes que a vejo. Perdoe-me outra vez, pois ouso desonrar vossa respeitabilidade com minhas depravações, mas sou todo vosso, para que tenhas a propriedade de mim, e faça o que vos aprove. Use, goze e disponha de todo meu ser a vosso bel prazer.
Não me contive, minha língua errônea não se abstêm. Matas-me que te perdôo e de toda culpa te absolvo, mas não tire de mim o direito espúrio de vos endeusar com meus despudores. Pois és, aos meus olhos, a mais bela dentre todas as legiões de senhoras. E vês? Não me refiro apenas às tuas carnes torneadas, mas infinitamente ao teu saber inestimável, a teu agir incomparável, a teu olhar indecifrável. Perdoe-me, insisto, amada minha e desejada, por meu agir vil e deplorável, ao te dizer tão horrendo escárnio, más és, és sim tão desejada.
Vi quando cruzavas a avenida. Não eram teus aqueles passos? Mas via eu ângelus saltos de maciez púrpura. Ah, mulher madura, quantas donzelas fartas de virgindade daria tudo para ter teus atributos? E quem foi o homem mal e detestável que vos deixou andar abandonada? Ou ainda, se filhos tens, porque não beijam seus pés de mãe honrada e não se lançam ao chão para que passes?
Teu corpo esguio, sonho Virgínia, ver-te nua a mostrar tua pureza desvirginada. A delicada pele ao frescor do vento e o calor das minhas mãos te tocarem. Arder o corpo mais que no inferno de todo fogo te acariciar. Sorria Virgínia, ou não rias. Tua beleza transborda dos teus seios apontados. Enfeites não precisas, tu jazes eterna em vida, teu olhar incandescente, eu beijo tão fervente teus mamilos enluarados.
Olhei e não tive a noção mais certa se deusa feita mulher ou se mulher feita deusa eras. E tu, o que me dizes, és deusa ou mulher pra esse mortal tão triste? Embora isso não importe tanto, pois sei que se me amasses o quanto te almejo, amainaria do meu corpo esse quebranto, por desejar ardente o que não vejo, pois és mulher em corpo, carne vestida e alma nua.
Queria consolidar nas pedras de tua vida minhas mais doces sensações, pois tu, senhora distinta, trazes o sabor inigualável de Eros, nas palmas de tuas mãos. Queria redigir, na lavratura de tua sina, a ardência dessa paixão para que não fujas de terminar teus dias ao meu lado e ainda assim, gravar em tua cripta minha idolatria por ti, eterna menina. Queria aos deuses do amor, fazer um pedido e um louvor, um brinde, uma afirmação de eterna gratidão, por ter, e para sempre ter, esse pobre mortal, felicidade tal, de tê-la conhecido, tê-la vivido.