Carta VI
Sabe aquelas brincadeiras? Aquelas quando a gente mergulha até o fundo de uma piscina e começa a catar todos os objetos espalhados e acumulados, a gente abre os olhos ardem, quer dar uma respirada lá em cima, mas a gente tem que fazer a limpa num só fôlego é o jogo! E não é legal deixar cair tem que segurar bem firme porque tem que ir lá pegar de novo, demora mais, a gente engole água, perde o ar, vixe! Então chega a hora de ir à tona com tudo o que foi apanhado, a gente coloca os objetos no lugar para que cada coisa tome seu rumo. Depois tudo de novo, são jogados novos objetos e toda vez vai desse jeito. Pois é.
Então é assim, encho o pulmão de ar, abro a boca em O, sugo o máximo que posso, posiciono o corpo em L ou Y sei lá, me impulsiono e já! Mergulho! E mergulhada faço a limpa no fundo. Estamos mergulhados nas mesmas águas, objetos diferentes, água no ouvido, no nariz, olhos ardendo, a volubilidade da água, os objetos querendo escapar das mãos, as câimbras, o frio e o silêncio da água, o cansaço dos malabarismos pra se movimentar lá embaixo, a água querendo fazer a gente subir, o fôlego sucumbindo, tudo! Estou mergulhada com você e como brincadeira de menino a gente cata e reúne os objetos só que com fôlego maior e de uma só vez. Já!
Mas olha só: Quando a gente surgir à tona, você aparece de um lado eu de outro, soltamos o fôlego contido, respiramos, e comemoramos num beijo!
Viu só: Beijo!
A ausência, por um momento de nós dois, é apenas superficial, quando ainda não se vê o outro na superfície das águas.