Carta de um soldado
Longe de tudo e de todos, meus pais, irmãos, minha amada esposa, não sei se os verei novamente, acostumado a ver a guerra somente pela televisão, nunca imaginava vivenciar isso, este pandemonio, onde há gritos de dor, explosões, pilhas de cadáveres mutilados, soldados a beira da morte com ferimentos gigantescos abertos por estilhaços de granada ou balas de fuzis, que rasgam a escuridão, acertando o alvo, dilacerando todos os músculos e tecidos. Na maioria das vezes não há muito o que fazer, apenas aguardar o último suspiro e entregar estas pobres almas aos braços da morte.
Dias e noites em claro, muitos companheiros mortos em batalha, os corpos mal esfriam, e retiramos pertences que possam ser reaproveitados, como capacete, botas, armas, munição, algum objeto que seja de uso pessoal para, se retornarmos vivos a nossos lares entregá-los para seus respectivos parentes.
Rastejando pela vida em um terreno lodoso, em plena escuridão, o corpo já não aguenta mais, em ocasiões comuns me recostaria e descansaria, porém aqui sigo as ordens de um capitão só paramos de avançar quando recebemos esta ordem e mesmo que resolvesse parar por contra própria, seria um alvo fácil para a tropa inimiga.
Não há lugar seguro aqui, céu, terra, mar, minas terrestres, armadilhas em meio a mata, aviões nos caçando como reles vermes em meio ao solo banhado de sangue e repleto de corpos apodrecidos misturados com o lodo.
Estou escrevendo esta carta, caso não consiga retornar, caso alguém a encontre, por favor entregue a meus familiares, pois já perdi a esperança de retornar vivo deste lugar infernal...