Carta de um Psicopata Arrependido
Hoje o Brasil todo ficou chocado com a maior tragédia de nossa história.
Nunca havia acontecido algo dessa natureza em nosso país. Até o dia de hoje quando se falava em tragédia a gente só lembrava de enchentes, deslizamentos de terra, incêndios, acidentes de trânsito, quedas de aviões, desabamentos de prédios, mas ninguém pensava em uma coisa do tipo que aconteceu na escola municipal Tasso da Silveira em Realengo, lá na cidade do Rio de Janeiro.
Isso que aconteceu foi algo esquisito demais, que mexeu muito com todo mundo e até comigo mesmo.
Essa coisa horrível abriu meus olhos para eu ver minha própria loucura !!! Quando comecei a ver as notícias dessa tragédia na televisão eu vi que eu também era uma ameaça à sociedade.
Eu sempre pensava em fazer algo desse tipo. Tinha dias que eu acordava revoltado com a vida e começava a fazer planos malucos desse tipo.
Quando tava desse jeito, eu passava horas pensando em fazer o mal pra outras pessoas. Gastava muitas horas na internet pesquisando notícias parecidas em outros países, para me ajudar a elaborar um plano de extermínio de pessoas. Às vezes eu delirava e começava a falar um monte de besteiras pro pessoal da minha casa e pros meus vizinhos.
Tinha vezes que eles me repreendiam e diziam que eu estava louco. Até minha mãe já falou que ia me internar por causa dos meus planos diabólicos. Ela dizia que aquele desejo de vingança que eu alimentava dentro de mim era um câncer que ia destruir minha vida.
Teve um monte de vezes que eu pensei que estava aqui nesse mundo para servir algum objetivo mal. Nessas horas achava que tinha que me vingar das pessoas, retribuindo o mal que elas me fizeram para chocar o mundo e mudar a forma que as pessoas tratam seu semelhante.
Quando eu vi todas essas noticias do massacre de Realengo foi como se um balde de água fria tivesse caído na minha cabeça e me fizesse acordar. Tudo aquilo que passou na televisão me fez acordar para a vida.
Na hora que ouvi os jornalistas falando sobre o perfil do atirador do Rio, eu vi que eles podiam estar falando de mim mesmo. Era como se aquilo tudo fosse a minha própria vida, como se eles estivessem falando das situações que eu passei, de todo o meu sofrimento e das minhas dores aqui na minha cidade.
É triste demais ter que admitir isso, mas isso que aconteceu era algo que eu sempre pensava em fazer. O local do crime, as vítimas, o tipo de arma, a Carta ... tudo era parecido com o que eu pensava.
Um monte de vezes eu planejei algo assim, para punir as pessoas que me maltratavam na Escola, principalmente as meninas que me desprezavam.
Elas sempre me criticavam muito, por que eu era o mais feio da sala, e por causa da minha gagueira.
Sempre acordava de noite chorando e lembrando das malvadezas que elas faziam comigo na sala de aula, no pátio, nos corredores da Escola, e até na hora que eu voltava pra casa.
Eu odiava muito aquilo e só queria me vingar fazendo todo mundo pagar com a própria vida.
Mas, graças a Deus, não fiz nada disso. Essa tragédia serviu para abrir meus olhos. Agora eu sei que ninguém merece sofrer por causa dos meus traumas.
Não quero causar nenhum mal desse tipo. Sei que sofri muito quando era criança na Escola, mas não posso descontar o ódio que sofri em ninguém.
Não quero ser comparado a esse monstro que fez tanta gente sofrer. Não quero nunca mais pensar em fazer algo desse tipo. Não quero ser chamado de monstro e psicopata.
Jamais quis admitir minha revolta. Até isso acontecer, não tinha idéia que eu precisava de ajuda para apagar de dentro do meu coração esses pensamentos ruins.
Depois de tudo isso, sei que preciso procurar ajuda de médicos e pessoas boas para me darem forças pra perdoar quem mexeu comigo. Sei que preciso deixar de lado essas doiduras pra sempre.
Vi que era eu que poderia estar sendo criticado por todo mundo na televisão, sendo descrito pelas autoridades como um grande problema para o Brasil.
De hoje em diante quero deixar de lado toda mágoa e nunca mais vou pensar em machucar outras pessoas !!!
Curitiba - PR, 07 de abril de 2011.
Paulo
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Ilha de Marajó – PA, Abril de 2011.
Giovanni Salera Júnior
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br
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