intrusos

minhas palavras provavelmente serão mais decepcionantes que as suas, mas pela primeira vez em muito tempo eu senti que tinha um pai de verdade. suas escolhas sempre tenderam a me aprisionar para longe do seu castelo de arrogância e é difícil controlar a ansiedade que toma conta de mim neste momento. tentando provavelmente em vão arrancar lágrimas dos seus olhos eu digo que sou sua filha e que as coisas são muito mais complicadas do que aparentam ser.

se eu me exponho demais é porque nunca me ensinaram a ser discreta com relação a meus sentimentos, e isso, em parte, é culpa sua. minha criação pouco convencional, para dizer o mínimo, não envolveu a frieza com a qual você costuma tratar seus filhos.

não há sentimentos de amor ou cumplicidade ao meu redor em qualquer canto em que eu me encontre, e agora que fui abandonada pelo que me substituía sua presença me sinto mais sozinha do nunca.

você me abandonou há muito tempo e essa ferida nunca cicatrizou, temos agora é que encontrar um meio termo entre o carinho e a civilização sem que essa mancha perdure por mais tempo.

sobre a questão da aliança que deveria existir em casa: é complicado aliar-se a pessoas indiferentes a você, a única coisa que todas partilhamos é a necessidade de criar uma criança linda, pura, inocente e indefesa, e mesmo assim, todas discordamos da maneira a qual isso deve ser feito.

obviamente nunca te mandarei este e-mail, mas que fiquem aqui registradas as minhas palavras, onde tenho a esperança de que um dia, se você se interessaar em mim o suficiente, você poderá encontra-lás.

Taís Gollo
Enviado por Taís Gollo em 07/04/2011
Código do texto: T2894743
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