intrusos
minhas palavras provavelmente serão mais decepcionantes que as suas, mas pela primeira vez em muito tempo eu senti que tinha um pai de verdade. suas escolhas sempre tenderam a me aprisionar para longe do seu castelo de arrogância e é difícil controlar a ansiedade que toma conta de mim neste momento. tentando provavelmente em vão arrancar lágrimas dos seus olhos eu digo que sou sua filha e que as coisas são muito mais complicadas do que aparentam ser.
se eu me exponho demais é porque nunca me ensinaram a ser discreta com relação a meus sentimentos, e isso, em parte, é culpa sua. minha criação pouco convencional, para dizer o mínimo, não envolveu a frieza com a qual você costuma tratar seus filhos.
não há sentimentos de amor ou cumplicidade ao meu redor em qualquer canto em que eu me encontre, e agora que fui abandonada pelo que me substituía sua presença me sinto mais sozinha do nunca.
você me abandonou há muito tempo e essa ferida nunca cicatrizou, temos agora é que encontrar um meio termo entre o carinho e a civilização sem que essa mancha perdure por mais tempo.
sobre a questão da aliança que deveria existir em casa: é complicado aliar-se a pessoas indiferentes a você, a única coisa que todas partilhamos é a necessidade de criar uma criança linda, pura, inocente e indefesa, e mesmo assim, todas discordamos da maneira a qual isso deve ser feito.
obviamente nunca te mandarei este e-mail, mas que fiquem aqui registradas as minhas palavras, onde tenho a esperança de que um dia, se você se interessaar em mim o suficiente, você poderá encontra-lás.