Carta V
Tu me levas de um ponto a outro como um giro rápido de roda roleta uma hora a coisa fica boa outra hora a coisa fica russa e depois fica tudo claro de novo.
Eu queria que tu viesses de novo, roçasse tua boca nos meus lábios daquele jeito que tu fazes assim se demorando como uma flor ao vento trepidando sua firmeza na minha quentura macia. Eu queria dizer só as coisas mais saborosas da vida em que tudo de repente pára ou gira num carrossel daquele parque animado e colorido ou como um redemoinho que não pára, só faz com que a gente penetre ainda mais fundo.
A gente se desfaz naquela praia, naquela chuva, naquele mar de palavras entrecortadas de beijos, de silêncios, de sei lá o quê, tu me giras, giras no ar depois juntas meu corpo ao teu como um só, então eu gosto que é como uma respiração de urso a tua, me respiras também tu, e eu fico com essa estranha desmesura, querendo te beber, te comer mastigando devagar suando, a boca toda se enchendo de saliva e engolir a dádiva multiplicada. Tu me levas de novo quando a roda girar lá naquele ponto de sermos só desejo?