Carta para Ele
Falas-me da linguagem que tuas mãos guardam para mim...confessas-me as ternuras dos teus olhares, quando ocupo o teu pensar. Dizes-me dos céus que inventas, bordando-os de estrelas, para que eu as escute. Sei bem desta tua maneira de quereres te deixar em mim. Ofereces-me tanto e eu, sempre de mãos silenciosas a te fitar.
Talvez devesse te pedir perdão, pela minha pressa que esquece de te ver. Não posso te conduzir a estas paisagens que anseias. Sempre há em meus caminhos, um abismo iminente a espreitar passos desavisados.
Talvez devesse te pedir perdão, por não conseguir abrir meus braços aos teus abraços. É que mora dentro de mim uma longa espera, flecha sem arco a espetar-me a solidão.
Talvez devesse te pedir perdão, por ignorar o perfume da lua que deitas em minhas noites, quando teus dedos vestem-se de carícias, buscando-me. Sorrio-te silêncios e calas a aflição do teu corpo que transpira afagos e ardores.
Talvez devesse te pedir perdão, por seres este porto seguro, enquanto meu coração é veleiro, navegando a buscar as águas de outro mar.
Talvez devesse te pedir perdão, por não me deixar tocar pela música da tua pele. É que transbordam em mim notas perdidas, clamando por uma voz que já não alcanço.
Talvez devesse te pedir perdão, por nada saber de dissimulações. É que tenho marcas invisíveis que trago no peito. Algumas, em carne viva, respirando o aroma de uma lembrança que me convida à eternidade.
Talvez devesse te pedir perdão, por não ter os beijos que desejas. Em meus lábios arde ainda uma saudade que me beija. Em meu corpo há silêncios, doída escuridão de uma ausência.
Talvez devesse te pedir perdão, por me amares tanto assim...
Fernanda Guimarães
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