A Última Carta!

Que saudades! Não sou mais aquele menino que escreve isto, mas é o que ainda sinto por você e o que aconteceu...

Depois do dia em que você foi embora, meu coração se partiu, mas eu não podia dizer nada a você...

No dia em que você partiu em direção à sua vida, eu tive de ficar escutando seus últimos passos. Tentei me conformar com a solidão. Foi difícil. Tarefa hercúlea, mas assim eu tinha que fazer. Não tinha escolha.

Os anos se passaram, eu envelheci, você deve ter envelhecido, mas não consegui esquecê-lo. Hoje me recupero ou tento recuperar o que perdi, mas não por sua causa.

Há muita coisa que você não sabe. Os bastidores dessa história são bárbaros, mas vou contá-los aos poucos.

Quando o conheci, confesso que nada queria com você. Era só mais um, mas me apaixonei. Uma pena que o amor teve que morrer tão cedo no nosso caso, mas não ficarei cultivando lamentações. Ponderadas as questões, eu pude e quis imaginar que jamais sairia do seu lado, mas por infelicidade, conheci quem destruiu nossas vidas.

No começo, não quis acreditar que isso se fortaleceria como uma barreira tão grande. Achei que com meu vil poder e dinheiro, eu conseguiria afastá-la de nós, mas não consegui. Estava lutando com alguém muito mais forte que eu. E era só o início.

Por trás de cada sorriso que eu me esforçava em esboçar, uma lágrima de dor escorria por ver que eu não conseguiria vencê-la e por perceber que você achava que eu não te amava mais do mesmo jeito.

A cada amanhecer, eu olhava nossa primeira foto e ouvia na minha consciência a voz da ameaça, do medo e da solidão.

Juro que tentei lutar. Pensei até em raptá-lo para que pudesse fugir com você. Pensei até em virar um assassino, mas não tive coragem para tal. Seria muito egoísmo.

Dois meses antes da sua ida, eu tentei fugir com você, mas meus planos findaram de forma, até hoje desconhecida por mim e quando isso aconteceu, o ponto mais alto da nossa história chegou.

Sem fazer alardes, ela me derrubou, sem deixar rastros e silenciando minha voz, matando minhas esperanças.

Três semanas antes de você partir, eu sofri um acidente e sequer sabia se eu sobreviveria. Meu estado era muito grave. Fiquei em coma por quase um ano e quando acordei você já tinha ido e eu não podia ir ao seu alcance. Eu havia ficado tetraplégico e meu rosto estava todo desfigurado.

Minha vida quase acabou ali. Sei que deve estar sentindo pena de mim, mas não sinta. O que definitivamente segurou e continua assegurando que ao menos, eu vegete, é o amor que ainda sinto por você.

Tinha como recuperar você, mas decidi que não tentaria mais uma vez, afinal, o que restou de mim? E a partir daí, só foi piorando, o que eu ainda chamo de vida. Tive depressão, fiz várias cirurgias. Todas sem sucesso. Profissionais de todos os tipos que o meu dinheiro pôde alcançar, mas ainda não consegui meus movimentos, meu rosto, minha vida e meu amor de volta. Acho que isso, o dinheiro não conseguirá recuperar.

Tive que abandonar meus sonhos, meus planos e você. Sei que ficou revoltado ao ver que eu não havia ido me despedir, mas eu queria, eu juro, mas faltou coragem.

Eu imagino também cada palavra que você disse quando não me viu, quando teve que partir. Aparentemente de longe, ela destruiu minhas últimas esperanças e perdi definitivamente você ao saber que você tinha se casado.

Este foi o meu fim e sequer pude vê-lo mais uma vez. Nem você me viu, mas também, não faz diferença, afinal, você nunca mais poderá me ver mesmo. Só restaram as minhas cinzas. Cinzas de um amor, o único, destruído por ela.

Espero que não alimente raiva ou sentimentos semelhantes, afinal, o tempo só se fez cruel conosco. A AIDS me destruiu.

Gostaria que depois dessa carta, você me perdoasse, se conseguir. Sei que roubei decisões que eram nossas, mas acho que consegui acertar, sem você, infelizmente.

Anseio pela sua felicidade ao lado de quem você tem agora e se sentir saudades, vá ao lugar em que fomos mais felizes. Talvez lá, você ainda encontre um pedacinho de mim.

Ah, e não se esqueça que te amo. Seja feliz, meu amor!

(Isto é apenas ficção, mas previna-se contra a AIDS!)