Teresina, 18 de março de 1992
Teresina, 18 de março de 1992
Prezado professor Arimathéa
Comigo sua carta de 23 do mês passado. “O apoio que concede a NA vale muito – é o apoio de uma inteligência viva e bem aprimorada” -. Professor, tenho sido alvo constantemente das atenções do seu coração grandiosíssimo. Com certeza nunca senti a morte por falta do seu carinho. Por isso e por tudo mais sempre agradeço ao Bom Deus por experimentar emoções maravilhosas provenientes de pessoas necessárias à Humanidade. E como disse em poema, A PRECE, livrai-nos, Senhor, da bajulação imunda. Jamais assim o farei porque me sinto fiel às minhas convicções. Portanto quando falo ou registro o que penso, o que falo, eu o faço com força da verdade que constrói. Sinto por sua integral pessoa respeito e admiração profunda, independente do que o senhor tem me ajudado. “Não invocar o nome de Deus em vão”. Digo-lhe, por Deus, a sua amizade me é sumamente terapêutica, professor. A sua energia só me reabastece e se não mais a busquei pessoalmente é porque desde 24/2 acompanho Jéssica à Escolinha do Sinopse, 1º grau, Av. Kennedy, por toda a manhã. Aproveito para dar continuidade ao livro: Jéssica, Minha Neta! Leio; rezo; estudo música (violão clássico); coloco meus pensamentos em ordem; caminho bastante na boa área livre; faço exercícios respiratórios, físicos; procuro me relacionar com os que contribuem para o crescimento da mencionada Escolinha; com as crianças especialmente é a minha atividade principal. Realmente me tem sido experiência restauradora. Tanto é que não mais sinto dores duodenais que, por pouco, não me tiraram o fôlego. Naturalmente que sinto falta de não mais ter ido aí mas Jéssica aos poucos vai adquirindo segurança e penso que breve já poderei sair sem lhe causar transtorno. A porta da sua sala sempre se abre para que me veja; diz à professora que sente saudades de mim, a avó apaixonada.
Também, professor, estou sem ajudante em casa. Maurister, quase dois anos conosco, senhora séria, responsável e de minha inteira confiança, encontra-se em tratamento de saúde. Infelizmente a mesma é alérgica e desde o início do seu trabalho conosco que vem dando provas de que tem que procurar outra atividade. Seus direitos trabalhistas lhe serão assegurados. Rodrigo, médico, meu primo, me está ajudando no seu problema de saúde, licença ou possível aposentadoria. De forma que estou sem minha grande colaboradora. Tenho escrito manualmente mas quando é preciso datilografar nem sempre encontro disposição física. Espero que me adapte à nova situação e saiba coordenar o tempo devidamente. É dito que quem trabalha tem apenas um anjo mau para tormento próprio e quem nada tem para fazer tem milhares. E assim os dias vão passando e, apesar das reais dificuldades, o Sol brilha para todos. Ele aquece os corações gelados ou até os desfaz para surgimentos de novos capazes de sentirem a beleza existencial. E a beleza, como disse Vinícius de Morais, é fundamental. Meus olhos, nossos olhos, constatam esta benéfica realidade.
Estou ansiosa para publicar meu terceiro livro, que se encontra com o senhor, para revisão. Tão logo me sinta capaz, aviso-lhe.
Espero que sua saúde e todo seu progresso sejam constantes.
Atenciosamente,
Francisca Miriam.
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Do livro “Correspondências de A. Tito Filho para Francisca Miriam”, Edição da autora, Teresina, Gráfica e Editora Júnior Ltda.,1995, páginas 94 e 95.
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