Carta II

Você vem? Você vem, não vem? Vem sim. Estou aqui na espaçosa sala de se estar bem. Você está. É presença comigo diante da lareira que crepita suavemente. Nossos corpos em segurança e esse isso de nós também seguros. Descansamos no tapete macio de folhas de um outono recém nascido e de pétalas da primavera que atravessa estações e floresce em qualquer tempo, nossas pálpebras em silêncio perfumado que tanto mantém o brando fogo quanto faz esse nosso tapete voar a lugares des(conhecidos), porque não cheguei antes? Há tempos atrás? Porque estive tanto tempo escondida? Onde me meti? Acho que me perdi isso sim. A minha mão, os meus passos percorrendo ausência. Mas esse lugar onde já estamos é um lugar levitado de agora, um mundo jardim - tu, meu jardineiro, sempre estiveste! Hoje quero só ficar aqui assim com a mão entrelaçada na tua quentura, na tua escuta. Escuta. Espera. Não solta. Espichamo-nos. Boca, braços, cabelo, boca, pescoço, ombros, peito, olhos... Espia, pia! Também eu sou entrelaçada do teu silêncio entre as falas e é aqui nesta esfera átima, como fósforo riscado no escuro que alguma coisa nos acontece. Alguma coisa que ainda não palavrei acontece e é tão bom não é? É sim. Então, se você vem é bom, tão bom que não acho nome, encontro sua presença!

Com todo amor de que sou feita, escrevo-te.

Flor

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 25/03/2011
Reeditado em 25/03/2011
Código do texto: T2869846