CARTA A DEUS - GILVANIO CORREIA
CARTA A DEUS
Senhor, creio que no princípio criaste o céu e a terra.
Quando percebeste quão escura era a terra, disseste: “Haja luz” e houve luz. Chamaste esta de dia e a escuridão de noite. Separaste as águas (oceanos) das águas (na atmosfera em forma de nuvem). Separaste as águas, fazendo surgir o elemento seco que chamaste de terra. Fizeste surgir relvas e ervas, bem como árvores frutíferas que produzissem segundo suas espécies. Na imensidão do espaço fizeste o astro maior para iluminar o dia e astros menores para iluminar a noite. Criaste, ainda, os peixes do mar e as aves do céu, animais que rastejam, animais domésticos e animais selvagens, todos para produzirem também segundo suas espécies.
Depois de toda essa beleza da Vossa criação, criaste o homem, à Vossa imagem e semelhança. Deste a este a autonomia para povoar toda a terra e dominar tudo o que nela há.
Em seguida, abençoou o sétimo dia, santificando-o e descansou.
Deus meu, Senhor dos Senhores, Pai amável, perdão por todos os meus erros e pelos erros que a humanidade tem cometido contra Ti. Sei que descansaste apenas no sétimo dia. Porque de lá para cá o homem tem Te causado muita preocupação.
Ao ouvir: “Multiplicai-vos e enchei toda a terra e tenha o domínio sobre tudo o que nela há” o homem levou ao pé da letra. Multiplicou tanto, que em 1999 ultrapassamos a cifra dos seis bilhões de pessoas sobre a face da terra. Mas mesmo antes de chegarmos a essa quantidade, há muito o homem tem dominado-a excessivamente. Prova disso é a destruição que se vê a olho nu, ao redor de todos nós.
Hoje, meu querido Pai, escrevo-Te esta carta. Não irá via rádio, via TV ou via email. Irá via coração. Do meu para o Seu. Sei que estás vendo a destruição que causamos ao planeta. Será que em vez de chamarmos a Terra de “Planeta Água” não seria o momento de a chamarmos de “Planeta Poluição”, “Planeta Nuclear”, “Planeta Destruição” ou “Planeta da Ambição”.
Em nome de um falso progresso e de um verdadeiro retrocesso, destruímos tudo. As geleiras estão sumindo; animais e plantas se extinguindo; a raça humana sendo dizimada e a natureza, à sua maneira, vai reagindo.
Porque não trocamos a expressão “estações do ano” para outra mais atual, como por exemplo, “estações da semana”? Isto porque nunca se viu mudar tão drasticamente, numa mesma semana, os fenômenos naturais.
Diante dos nossos olhos cidades inteiras vão sendo inundadas, soterradas, destruídas. E achamos que são fatos que jamais acontecerão conosco. Todos estamos vulneráveis.
Ao longo da existência o homem inventou muitos instrumentos de medição: a balança, a ampulheta, o barômetro, a régua, o taxímetro, o sismógrafo, o velocímetro, o bafômetro, o termômetro. Enfim, só não inventou o desconfiômetro, pois parece que não desconfiamos, ou fingimos ainda desconhecermos o grande mau que a espécie humana tem causado ao Planeta Terra e, consequentemente, a si mesma.
Os mares estão cada vez mais altos, imprevisíveis e aterrozirantes; as florestas estão desaparecendo. Deram lugar às cidades, lavouras e pastagens. Os animais estão sumindo. Seus pelos ou penas viraram artigos de luxo. Transportam-se animais, ilegalmente, como se fossem produtos industrializados. Rios, lagos e lagoas estão cada vez mais rasos(as), cada vez mais poluídos(as) e cada vez em menos condições de uso para o ser humano, tamanha a poluição.
Devido às nossas ações impensadas, agora é a Terra que treme! Agora é a Terra que sente calor! Agora é a Terra que sente sede de água potável! Agora é a Terra que não respira mais o ar puro. Agora chegou a vez dela reagir, e está reagindo. Assim como não medimos as forças para destruí-la, ela também não mede forças para nos responder.
E o quanto somos fracos e indefesos! Agimos como crianças no passado e continuamos agindo como crianças agora. Por isso é que sofremos como criança. Não haverá nada que impeça a natureza de reagir. As catástrofes naturais são o eco da nossa ignorância.
Destruímos nosso planeta, nosso lar em detrimento de interesses financeiros. Esse processo chamado “globalização” veio conduzir-nos ao ápice a ambição humana. E já estamos pagando um preço altíssimo e incalculável, onde tudo o que a humanidade já lucrou com a destruição do planeta, dos bichos e plantas e da poluição de rios, solos e ar, se fosse possível calcular número por número não pagaria o sofrimento pelo qual estamos passando e que com certeza presenciaremos momentos piores, ou seja, o próprio homem aterrorizou sua vida.
De geração a geração o homem foi modificando o mundo. As profecias Suas, oh Grande Pai, estão se cumprindo. Creio que o tempo está próximo. Filhos matando pais, pais matando filhos, as estações do ano se inverteram, a natureza responde em fúria. As trombetas estão tocando. Fingimos não ouvi-las. As bestas estão surgindo do ar, do mar e da terra. As últimas pragas foram lançadas. As Babilônias estão caindo. Estão usando o nome de Deus, nas igrejas, para abusarem sexualmente, para lucrarem financeiramente, isto é, religião virou negócio. São fatos que estão na mídia, mas não generalizo religião alguma.
Não bastasse a natureza pagar pelo nosso descaso, até o nome de Deus está sendo usado em vão.
Aquele que é o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro, o princípio e o fim. (Apocalipse: 22:14) está por vir.
Estou e creio que a maioria está ciente de que, ao chegar o dia do julgamento final, termos muitas contas a pagar pra Deus.
Despeço-me, Senhor, tristonhamente deixando uma indagação: Será que deixaremos para as próximas gerações, ao menos uma amostra da Vossa Criação?
GILVANIO CORREIA DE OLIVEIRA
Endereço: Planeta da Ambição
Número da lucratividade.
Bairro do medo.
Cidade da devastação
Casa exposta ao risco.
ITANHÉM – BA, 21/03/2011