Sayonara, Lígia
Tudo bem, eu não me importo em me resignar quando a decisão é sua. Desprezo-me, de certa forma, por ser tão complacente quando deveria sei lá, enfiar a cara na privada e dar descarga ou tocar fogo nas suas calcinhas ou te enforcar com os seus sutiãs. É fogo isso de ser escravo nem de você, mas do bálsamo que você se tornou pra minha vida até então opaca! Eu consigo seguir adiante sem o encaixe da conchinha, sem o yakissoba de rua nosso de cada dia, sem as covinhas da sua bochecha e do seu quadril. Eu consigo sobreviver sem a sua demora pra escolher a roupa e se maquiar. Eu consigo sim, Lígia, ir ao cinema sozinho. Quantos e quantos anos eu não suportei viver antes de te conhecer? Não fique se achando única, apesar de sê-lo. Não fique se sentindo especial só porque eu largaria tudo por você. Não fique se achando mais importante que o Sol só porque é você quem aquece as fibras do meu coração. Não fique triste se me encontrar balançando numa forca; a culpa não é sua - seja lá do que for. Eu te amo, Lígia, e espero o tempo que for preciso pela sua tomada de decisão. Só, por favor, não retire esse manto de beleza que me aparvalhou de tanta paixão! Sem ele você se torna só mais um esqueleto insosso cheio de terminais nervosos que não me interessam.
Lígia, não demore, senão eu chuto o banco ou, pior: pego a sua melhor amiga. Besta eu sou, mas também não sou besta.
Tem outro na jogada?
Porra, te odeio!
Odeio ver todas as minhas mais melífluas e bonitas palavras serem mera fagulha se comparadas ao caudaloso e borbulhante rio de magma que inflama o meu peito perto desse iceberg que você se tornou. Eu odeio a pintura digna de Paul Avril em que se transformou a nossa relação.
Cadê a candura de outrora?
Que arrebatadora e repentina conspurcação foi essa?
É de deixar qualquer um puto da cara essa palhaçada! Mas eu não fico puto da cara. Apesar da prostituição que é deixar de SER para -quiçá- te ter. Não posso mais com isso... É sério, muitíssimo sério.
Estou confuso.
Preciso de um tempo, Lígia.
Preciso parar com essa neura, com esse monte de pesadelos de morte que venho tendo.
Pô, olha o primeiro parágrafo desta carta... Cadê meu amor-próprio? Aonde foi parar aquele cara seguro que você conheceu? Aonde foi parar aquele que pisava em você? Cadê o motivo de você ficar choramingando com todas as suas amigas com "ai, ele não me ama"? Cadê ele?
E aonde foi parar a sua necessidade de ter o meu amor?
Agora que o tem, puro, bruto - um carvãozinho que com o tempo foi se transformando, sendo lapidado pela suas demonstrações de afeto e se tornou um diamante -, resolveu jogar a toalha?
Foi o tédio que chegou aí?
Foi o Ricardão?
Já não sei mais fazer a coisa toda?
Por que você não morre, hein?
Facilitar-me-ia a vida sair andando sem rumo depois de jogar umas pazinhas de terra sobre o seu caixão.
Precisamos mesmo nos afundar nessa fonte de lucro pra psicólogos? Por que não deixemos os borderliners pra eles? Eles precisam de algo mais do que amor-e-ódio pra exercer a profissão e passar geléia de damasco grego na torrada belga, não!?
Não sei o porquê de escrever esse troço enquanto você dorme na minha frente. Esse seu lábio torto com a saliva escorrendo me irrita, sabia? Não sei mesmo por que escrever isto, sendo que basta bater umas tampas de panela e te acordar e jogar tudo isto na sua cara com um pouco de perdigotos - e depois jogar as tampas também.
But I can't, honey!
And I don't know why. I swear to God I don't know why I can't tell you everything I feel about you.
And I’m still here, writing a bunch of bullshits while you are sleeping like a angel - my angel, my devil.
I'm a coward. A little piece of shit. And I don't deserve your smiles.
Lígia, cansei desse desgaste mental, dessa ambigüidade contínua que virou a nossa rotina. Não tenho mais forças para continuar.
Vou viver minha vida por aí, em outro lugar.
Meu Visto foi aprovado ontem e este lugar não me pertence mais. Aliás, nunca me pertenceu.
E, talvez, quem sabe, como diz a música: "e na perfeição de um céu sem sombras a gente vai se encontrar".
Amo você e vou levar comigo esse amor.
Adeus (ou não).
Ass: R.
P.S.: Já falei que você fica horrível dormindo?