Adágio Inverso Nuperpublicado
Isto é loucura! Não posso me encontrar com alguém que pratica rapel do lado de dentro de um vulcão utilizando arame farpado como corda. Não posso ficar sonhando com alguém que é tão dadaísta autocomiserativamente cínico quanto eu e saber o sabor puro e superlativo da mais tenra maldição que é viver na acéfala contemporaneidade das maçãs mordidas como status quo e dos vampiros limpinhos de cara lisa ativadores de sístole/diástole de virgens; do dia após o outro e do dia após dia na subserviência salarial e dos sorrisos frente câncer atrás; no arrastar autômato da morte em vida até o desencarne inversa e paradoxalmente tétrico; da vitrine do eterno incognoscível outro lado da moeda feita de pós de estrelas. Deixa assim, nega, do jeito que está. Se suas seis vidas de gato se esvaíram depois de tanta queda do muro do desamor e só lhe resta uma, não a (des)gaste com uma lampreia comensal senil que pensa em suicídio metade do tempo que passa acordado diante do vazio inclemente da falta de propósito das folhas crepitando na sola dos pés e de sacolas de mercado voando anunciando o tornado de início de Outono que infelizmente nunca vem. Não se preocupe, não acredito no seu amor e não a culpo por pensar em mim às sete da manhã esmerilhando o cu na ostra sobre os trilhos do metrô horrendo desta cidade; não a culpo, porque agora penso em você sob um bolo de folhas mortas alaranjadas gritando para as entranhas da Terra com um laptop caro esquentando no colo e com uma bunda branca que esqueceu de envelhecer e ignorou a Lei da Gravidade esquentando a minha cabeça – visto que somos diametralmente opostos tanto geograficamente quanto cronologicamente (cornologicamente) falando e, como eu já disse: sai daqui, Mulher Catarse, antes que meu parafuso espane de vez.
17/03/2011 - 16h26m