CORONEL WALDOMIRO

CORONEL RF WALDOMIRO BEZERRA DE MELO

“Filipéia de Nossa Senhora das Neves” já nasceu como cidade sem nunca ter sido uma simples vila. Com os holandeses foi chamada Fredericstadt, a cidade do Príncipe Frederico Henrique de Orange. Na reconquista portuguesa foi nomeada Cidade da Parahyba, a Imperial Cidade.

Toda essa nobreza histórica enraizava o coração valente do jovem pessoense Waldomiro Bezerra de Melo ao ingressar no Ninho das Águias no dia três de março de 1958.

Tempos de sonhos, aventuras e muito estudo. O esforço foi plenamente recompensado com o recebimento da espada de oficial e sua classificação no berço da Aviação de Transporte em 1964.

Sempre pronto para o serviço a qualquer tempo e local, não resistia o jovem tenente às forças telúricas que o atraiam ao seu amado nordeste: 5º GAv em Natal, 6º GAv em Recife, COMCOS em Salvador e CATRE, novamente em Natal.

Essas unidades operacionais assistiram ao amadurecimento profissional do então Oficial Superior, cada vez mais íntimo das grandes máquinas aladas, como a fortaleza voadora B-17 e o valoroso C-130 Hércules.

Com o C-130 a paixão do Tenente Waldomiro foi quase um caso de bigamia. Sua lua-de-mel na Cidade Maravilhosa com sua amada Vilma foi praticamente dividida com inédito curso da grande aeronave que pela primeira vez guarneceria os céus do nordeste.

Mas tudo valeu a pena. Muito além das missões de transporte, o magnífico quadrimotor prestou inestimáveis serviços de reconhecimento, aerofotogrametria e busca e salvamento. Doutrinas de voo, planejamentos de manutenção, aplicações operacionais, flexibilizações de emprego nasceram da vontade pessoal e da inteligência aguda com que Waldomiro se empenhava na sua opção de juventude.

Gradual e sucessiva a carreira desse guerreiro, já concluinte do Curso de Comando e Estado-Maior, conduziu-o ao EMAER. Cada vez mais a Aeronáutica usufruía sua experiência e visão de conselheiro, distanciando-o, paulatinamente da cabine de comando. Seu nordeste querido não era mais o local de trabalho, mas sim de suas férias regulamentares.

De volta à ECEMAR, já merecidamente promovido ao posto de Coronel, foi indicado, ao fim do Curso de Política e Estratégia Aeroespaciais, para ser adido em La Paz, na Bolívia.

Em 1991 e nos dois anos seguinte “la gloriosa ciudad de Nuestra Señora de La Paz” acolheu a família Bezerra de Melo estreitando ainda mais os laços que nos unem aos irmãos bolivianos como que confirmando a divisa pacenha: "Los discordes en concordia, en paz y amor se juntaron y pueblo de paz fundaron para perpetua memoria".

Lentamente, Cronos registrou trinta e seis anos de serviço ativo, sensação quase que instantânea sob a influência de Kairós. Esses deuses do tempo, seja na objetividade do calendário, seja na subjetividade da alma, fizeram-no solicitar sua passagem para a reserva em 1994.

Chegara o dia do merecido ingresso na reserva e sua adidância ao COMAR II.

Mas o tempo de repouso ainda se ocultava no horizonte da vida. Waldomiro foi chamado a emprestar seu talento, experiência e espírito agregador ao Estado-Maior das Forças Armadas, ao GABAER e novamente ao EMAER.

Sem descurar dos trâmites rotineiros, o talento do Coronel Waldomiro aflorava sobremaneira nos estudos, pareceres, e aconselhamentos em assuntos de capital importância envolvendo acordos e projetos de dimensões estratégicas.

A reforma por determinante exclusivamente cronológico ocorreu como mero ato administrativo desapercebido por todos: Waldomiro prosseguia suas atividades com serenidade, estabilidade, entusiasmo e simpatia suportando com argumentos de merediana clareza importantes decisões do Comando da Aeronáutica.

A dedicação integral ao serviço da Pátria permitia ao nosso Waldomiro discorrer em detalhes sobre as amadas máquinas voadoras, as missões, os estudos e instruções realizadas.

Sem embargo, a Primeira Subchefia foi a maior beneficiária desse conhecimento acumulado. O exercício da Chefia da Seção de Ensino permitiu-lhe instruir processos que multiplicariam os benefícios da arte de ensinar entre as Forças Armadas, Forças Auxiliares e Forças Armadas das Nações Amigas. Estudos formais antecipavam seu posicionamento seguro e sereno, justificando seu dístico habitual “Quem sabe, não gageja”.

Como ensinar é inseparável de aprender, entendeu o Cel Waldomiro que é chegado o tempo de trocar experiências com as novíssimas gerações protagonizadas por seu netos.

Não sendo a ubiquidade física uma característica humana, não pôde nosso grande homenageado presenciar muitos dos eventos das vidas de seus filhos, tais como seus primeiros passos, suas primeiras palavras e seus primeiros dias de escola. Nunca nada lhe foi cobrado, é bem verdade, pois a dignidade da carreira e as necessárias viagens em missão militar a tudo preteria.

Guiados, assim, mais pelo exemplo que pela convivência, seus filhos o amaram, cresceram, constituiram sólidas famílias que lhe deram lindos netinhos!

Agora, nada justificaria mais suas sentidas ausências para com essa nova geração. Waldomiro tem direito e deseja a ser um avô mais presente na efêmera infância dessas maravilhosas crianças.

Por isso declinou peremptoriamente o convite de renovação de seu contrato.

Também para nós, o tempo com Waldomiro a bordo passou muito rapidamente, pois, nas sábias palavras do filósofo Rubem Alves,

“O tempo pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração”.

Estado-Maior da Aeronáutica, Brasília, DF, 28 de fevereiro de 2011.