Carta de uma Mulher que fez Aborto
Foi muito difícil vir em público para expor o que eu fiz no passado. Não é nada fácil estar numa situação assim, especialmente para tratar de um tema tão complexo.
A nossa sociedade tem muito preconceito com o aborto. Logo que alguém ouve algo sobre esse assunto o clima fica pesado, pois esse tema sempre é rodeado de negativismo e discriminação.
Imagino que muitas mulheres já fizeram aborto por diferentes motivos, mas não tem coragem de falar sobre o assunto. Elas têm medo de se expor e serem maltratadas e discriminadas pelos amigos e no trabalho. E até mesmo os familiares que sabem do fato procuram ficar calados; ninguém toca no assunto, como se aquilo fosse um tipo de coisa extremamente ruim que devesse ficar debaixo do tapete.
Mas, eu sei que o aborto é algo que acontece muito na nossa sociedade, em todas as classes econômicas. As estatísticas mostram que milhares de mulheres fazem aborto freqüentemente.
Quando fiz aborto, eu era muito nova, não sabia bem sobre quase nada na vida. Era um tanto insegura, e foi a pressão de meu namorado que me levou a fazer aquilo.
Eu não tinha independência financeira, nem maturidade suficiente para encarar uma gravidez. Sabia que um filho iria exigir muito de mim.
Toda mulher quer ser mãe, pegar um filho no colo, dar de mamar, criar ele com amor. Essas coisas todas fazem parte de nossa essência. É algo que está dentro de nós, o tempo todo.
Por outro lado, não sentia segurança diante daquela gravidez inesperada, pois eu tinha uma vida sexual ativa com meu namorado, mas fazia tudo escondido de meus pais e amigos.
O nosso relacionamento era um tipo de aventura, um romance às escondidas, por que diante de algumas pessoas nós passávamos a imagem de sermos puros e infantis e entre nós vivíamos como se fossemos casados. Essa situação gerava uma série de conflitos entre a gente, muitas brigas e uma culpa tremenda.
Nós sonhávamos com um monte de coisas boas, principalmente quando víamos os romances nas novelas e no cinema. Contudo, tínhamos plena convicção que a vida real é bem diferente, muito menos encantadora. E, assim, no meio de tanta pressão acabei tomando remédios para tirar o meu bebê.
Hoje sinto uma culpa bem grande. Sinto muito tristeza por tudo aquilo, por ter sido muito imatura, por ter sido criada num lar desestruturado, por ter me entrega antes do casamento.
Se eu pudesse voltar atrás, iria escrever outra história para mim e para meu filho.
Não recomendo ninguém fazer o que fiz, por que acredito que isso não vale a pena. É por isso mesmo que resolvi me expor aqui na internet pras outras mães saberem da minha dor e cuidarem melhor de suas filhas e, principalmente, de seus filhos, pois não existe gravidez inesperada sem a participação de duas pessoas. Os homens também precisam pensar nas conseqüências de um namoro de qualquer jeito.
Mãe e pais: dê atenção aos seus filhos para que eles se sintam bem em casa e encontrem orientação para enfrentar os problemas da vida.
Não deixe sua filha sair por aí namorando de qualquer jeito, por que depois que o problema bate a sua porta é muito difícil consertar a situação.
Três Corações - MG, 06 de março de 2011.
Sandra Lemes
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Ilha de Marajó – PA, Março de 2011.
Giovanni Salera Júnior
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br
Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/9410800331827187
Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior