Prólogo
Fomentei minha paranóia. É. Eu fomentei a minha paranóia ao ponto de ter que te ameaçar de morte por medo de te perder. A instituição que construímos não poderia ruir por causa do seu descaso. Confesso que também precisei de um novo alento, de uma desfribrilada no sentimento morno que passei a ter por você. Sua reação não poderia ter sido outra diante da minha ameaça; copos voando, pratos voando, sangue escorrendo do meu rosto. É assim que eu gosto de você: demonstrando amor na brutalidade. Essa sua maneira de gostar de mim foi o que me fez gostar de você e nos últimos dias o seu descaso me deixou receoso de ser privado da felicidade que é estar envolto na intensidade que você emana. Não suporto indiferença, meias palavras e ares introspectivos. Isso denota que algo está acontecendo. Que algo de errado está acontecendo. Não suporto cogitar a possibilidade de ser jogado pra escanteio. Meu sentimento foi esfriando por causa do contato com o seu. Por que deixar que o que somos acabasse por nada? Passamos a fugir do diálogo. Passamos a seguir os dias como estranhos cumprindo algum tipo de obrigação, seguindo algum tipo de ritual. Isso me perturbou. Você não faz idéia de quantas madrugadas passei em claro alimentando a paranóia de que você estava me traindo. Procurei indícios no seu jeito de falar. Revirei seu celular, suas agendas, sua gaveta de calcinhas. Fiz coisas que me envergonhei depois. E foi a lógica luminosa da gin-tônica que me fez te procurar disposto a trucidá-la com meus próprios punhos. A sua indignação perante a minha petulância foi tudo o que eu precisava ver, ouvir, sentir, sentir a ardência causada pelas suas unhas, o cheiro do meu sangue, a bile subindo, o coração aquecido, a possível iminente perda total e por fim o acerto de contas que estabiliza um eqüilibrio que não deveria ter sido abalado. E tudo volta ao normal. Até que surja uma outra paranóia...