8.4.88.

Francisca Miriam.

Muito especial a sua carta escrita a caminho de Batalha, mês passado da sua viagem de longos feriados religiosos. Descrições de cenários bonitos, confortadores da alma da gente. Às vezes a sua prosa parece música da natureza – aquele suave ritmo de aves e plantas e córregos sempre nas recordações que sentimos.

Felizes dos que sabem rezar para dormir – e eu penso que Francisca Miriam dorme bem porque tem tranquila a consciência.

Creia que não me preocupo facilmente. Gosto de analisar os problemas do homem e da vida, mas de modo otimista. E nunca me seria correto aceitar que proporcionasse de qualquer forma constrangimento algum à estimada amiga, que muito admiro. Com certeza, muito trabalho na APL, nesse dia em que não a tratei como seria do seu desejo. Desculpo-me firme na palavra de não acontecer outra vez.

Lamentáveis os episódios que me narra com data de 25 de março sobre a violência em que se envolvem menores. Sua carta retrata a paisagem sincera de um mundo cada vez mais em deterioração espiritual e moral. A sociedade gananciosa, corrupta, de péssimos costumes, alimentada por um processo televisivo explorador da vaidade, do ânimo de gozo, da falta de inteligência de quase todos, sob manobra constante do poder industrial responsável pelo consumismo.

Esses meninos mal orientados são quase sempre produto de lares desajustados.

Nunca pratiquei atitudes de puritanismo. Penso que nós nos sujeitamos a emoções constantes, e absolvo muito pecados, eu que sou grande pecador, mas sou inconformado com a justiça social aviltante que governa a humanidade.

Muito bonito, oportuno e bem concebido o seu TERESINA: ONTEM E HOJE. Parabéns.

Ontem de manhã tive notícias suas com data de 5 deste corrente abril. Manoel Fabiano é uma expressão de bonita arte musical. Mande-lhe, por favor, o exemplar ora junto do livro do Moura Rêgo.

Não apenas de minha parte, mas a Academia Piauiense de Letras está solidária com as comemorações do centenário de Fabiano. Mais próximo da festa, verei se me é possível comparecer.

Francisca Miriam merece de maneira total a paixão do maestro – um apaixonado da beleza imensa dos corações femininos.

Não lhe mando o endereço do Moura Rêgo, boníssimo amigo, seresteiro, músico, compositor, poeta, prosador – um sujeito educado e simples, criador de arte – e não lhe mando o endereço porque ele, no dia 12 de março, numa tarde triste, fez a viagem derradeira, no Rio – e agora vive na saudade dos amigos que o admiravam.

Do admirador, às suas gratas ordens, Arimathéa Tito Filho.

PS. - Aguarde o pronunciamento sobre a poesia que compôs. Arimathéa.

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Do livro “Correspondências de A. Tito Filho para Francisca Miriam”, Edição da autora, Teresina, Gráfica e Editora Júnior Ltda.,1995, páginas 32, 33 e 34.

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