DESPEDIDA
Espero que após ler isso entenda porque não abri a porta hoje.
Como pude deixá-lo se aproximar do meu já congelado coração?
Mas quem resistiria...
Tão envolvente, tão sedutor, um olhar tão penetrante, um sorriso tão cínico e ao mesmo tempo doce. Tão fascinante.
No início eu simplesmente me entreguei ao desejo, à atração.
Mas chega uma hora que só isso não basta, não é suficiente.
Um algo a mais faz falta para preencher o vazio que toma conta da alma.
Houve uma época que apenas te-lo por alguns instantes era o bastante.
Sem compromissos, sem cobranças. Mas quando foi que tudo mudou?
Quando foi que caí na sua armadilha? Quando foi que seu golpe me atingiu que eu não percebi?
Você me acertou em cheio e eu caí. O que acontece agora?
Você não esta aqui. Só os Deuses sabem por onde você andou nessa noite quente.
Quente... Tão quente quanto você.
E eu permaneço aqui, nessa cama fria, enquanto escrevo, imaginando quem você estaria seduzindo hoje.
Pobre ser. Sinto pena por que não sabe no inverno que irá cair.
O engraçado é que você sempre volta. E eu sempre abro a porta.
Sempre cheio de si você chega contado sobre suas aventuras pela noite.
No início eu até achava graça. Não das pobres pessoas que você seduzia, mas do seu jeito de contar as coisas.
Eu pensava: Ele não tem culpa, como poderia ter sendo tão naturalmente sensual. Quem não cairia aos seus pés???
Mas o tempo foi passando e aquelas conversas começavam lentamente a me ferir.
Toda vez que você chegava e começava a falar sentia meu corpo ser atingido por inúmeras agulhas.
Feridas imperceptíveis, mas que causavam uma dor dilacerante.
Você nem percebia. Estava tão envolvido com suas proezas, com suas conquistas que nem sentia o quando me magoava.
Eu então me tornei mais uma de suas vítimas.
Espero que ao ler isso perceba o quanto você me fere.
Eu peço, não, eu imploro não me procure mais.
Mas não se preocupe, eu ficarei bem.
Apenas não volte!
Não vou mais abrir a porta.