Em busca de ilusão
“Sempre lutei muito. Minha família veio para a cidade em busca de uma vida melhor”. Meu pai, já velho, não podia trabalhar. Mas trabalhar de que? Trabalho onde o calor castiga, e torna não só seca a terra, mas também quem nela vive.
Desde menina ia com meu pai buscar água, pois onde morávamos, não tinha nem para beber. Eu me lembro daquele tempo de aflição. Andávamos horas, para no fim do dia, chegarmos em casa, com os baldes cheios, mas também, com calos nas mãos.
Minha mãe apesar de querer ajudar, era doente a coitada, e por nós só podia rezar.
Muitos que ali moravam, arriscavam-se a por o pé na estrada, e partiram em busca de emprego na cidade grande. Mas meu pai apesar de velho, sempre acreditou que um dia nossa vida ia mudar. Cristão desde pequeno, acreditava muito em Deus. Orava todo dia, e pedia que a chuva caísse, e molhasse a terra seca, e que então, nascesse tudo o que havíamos plantado. Mas no sertão, não adianta rezar, e com minha mãe cada vez mais doente, meu pai resolveu fazer, o que muitos antes já haviam feito. Pegamos o pouco que tínhamos, e partimos com a esperança de que, um dia teríamos um pedaço de terra só nosso, que longe da seca, desse tudo o que plantássemos.
Partimos confiantes. Levamos tudo, e não teríamos mais pra onde voltar. Chegando, sofri a maior desilusão, me deparei com desemprego, fome miséria e degradação. Senti falta da minha terra, onde apesar da fome e da miséria, ninguém matava seu irmão. Vi-me perdida e em um lugar estranho.
Minha mãe não aguentara, e viera a falecer. Meu pai também cansado, morreu com seus sonhos, e nem pode ver seu filho mais novo crescer.
22/03/2004