cara...Amada
Bom dia minha cara...Amada
Hoje fazem exatos três anos que me deixaste, ainda ouço a porta abrir e ouço teu bom dia. Era cansado e por vezes me acordava, mas como sinto falta de você me acordar.
Chegava fedendo remédio de tua enfermaria, cansada, com fome e descabelada, eu acordava para o trabalho, que você insistia em ver valor, eu nunca vi, bem sabes.
Ainda ouço a porta bater no dia que se foi, ainda ouço a solidão rindo de minha cara mal barbeada, sou um decrépito amada, sou um traste perdido, parei de compor, parei de cantar e me apiedo de mim mesmo por não mais sorrir. Acho que parei de viver.
Vejo o teu sorriso em cada rosto, tua voz em cada som, teu calor em cada casal, acho que me sondas tal perdida assombração, se tornaste minha perdição...
Vejo o que não existe pois nunca mais irá me sorrir, lembro das tuas lágrimas, do teu medo, do teu sono, de meu corpo com o teu, da minha inexatidão, do meu caráter falho e desalmado, só a morte me trará consolo, só o fim me dará teu colo...
Cansei de procurar tua voz em outras bocas, de buscar teu calor em outros corpos, a vida perdeu a cor, perdi tudo que um dia quis e deixei morrer o que havia sobrado, aos poucos a loucura me habitou todas as formas de expressão.
Começou com meu corpo, com as roupas, passei a beber, a fumar, a me destruir, sim é isso que quero, me ver o nada que sou sem você. Sempre fui escorado por ti desde que a conheci, desde que novamente nasci.
Agora amada retomo o ponto de onde terminamos, fecho a porta por onde saíste, tiro de tuas mãos as chaves do carro que a tirou de mim e destruo o carreteiro que foi teu algoz, bateste a porta e saíste, porque não presto, mas agora vou mudar isso, peguei o veneno mais fino que achei, a lágrima mais sofrida que coletei e agora brindo, ao ceifador que me levará, ao atraso que me buscará, só nisso a esperança, só no fim pedirei tua mão em uma dança...
Até breve...
Amado