Caro Emídio,
(In Memorian)
Espero que cada vez que me lembrar disto esteja cada vez mais distante...
O mais difícil de tudo não foi
Ver o mar secar quando eu queria que tivesse enchendo
Não foi o peso insuportável de cada manhã
Cada corte que tive que perpetrar em mim mesma
A fim de acabar com o mal pela raiz.
O mais difícil, enfim
Não foi esquecer...
Foi desamar...
Ver cada pétala murchar depois de florescer...
Ver o sorriso desvanecer no segundo quartel de mentiras
Não foi deixar a lágrima rolar...
Não houve sofrimento,
Não... Mas não posso dizer que não houve dor.
O mais difícil de tudo não foi
Caminhar pra frente
Sonhar novos sonhos
Abraçar o desconhecido com um único par de chinelos
Sem saber pra onde trilhar
O pior foi desamar...
Contar pra trás os minutos...
Obscurecer
Foi aceitar o inaceitável.
Foi deixar de sonhar com o inconcebível
E não mais se arrepender.
Ah, o mais difícil...
Já passou.
E eu espero que cada vez que me lembrar disto esteja cada vez mais distante...