ME LEVA PRA PASÁRGADA

Caro amigo Bandeira,

Escrevo-te por julgar-te boa alternativa para minha atual situação. Ah, meu amigo...

Descobri que não sei viver a agitação da cidade grande. Peguei-me cansado, sentindo uma dor estrondosa em meu peito. Sem ter a solução para tamanha dor, lembrei-me de ti. Ando cansado da moeda corrente, da qual, nós habitantes de uma metrópole dessas, nos fazemos cada dia mais escravos. Bem que eu quisera ir para Nossso Lar*, uma colônia do Plano Invisível, onde a moeda de troca é o auxílio mútuo. Lá tenho alguns amigos, certamente. Só não gostaria de fazer a rota de André Luís** até lá. Além do mais, sei que ainda não tenho esse cacife todo. Em Nosso Lar só habitam os merecedores. Acresce que não chegou-me a hora de mudar de Plano.

Por favor, amigo Bandeira, fale com seu amigo, o rei. Veja a possibilidade de eu me mudar pra Pasárgada, a terra dos sonhos do Planeta Terra. Diga ao rei que não são muitas as minhas exigências. Talvez precise apenas de papéis e uma caneta, afinal escrever é a única habilidade verdadeira que até agora possuo. Se necessário, leva até ele um dos meus textos. Mas, ao que me consta, a história lá é diferente. O rei não exige a formalidade burocrática da cidade grande.

Amigo Bandeira, me despeço, dizendo que preciso apenas desfrutar de momentos em que os pensamentos apenas passem, sentindo o frescor do vento, que bate em meu rosto, dando-me energia. Quero apenas nadar nas águas, caminhar sem medo pelas alamedas de Pasárgada, sem medos. Quero olhar pela vidraça da janela e olhar o sol, sem que a frustração me bata à porta da alma. Quero viver intensa e tranquilamente a vida de um artista, porque a arte, meu caro, não exige a riqueza amoedada, mas sim, o conteúdo pleno e feliz, de alguém que nasceu pra viver, sonhar e escrever, porque a palavra é o maior combustível do escritor.

Ei, amigo Bandeira, troque umas ideias com o rei, seu amigo. Quem sabe, ele não se torne meu amigo.

Antes que me esqueça, um abraço poeta. Deus te abençoe e me leva pra Pasárgada, por favor!

Notas: esse texto é inspirado no Poema "Vou-me embora pra Pasárgada", de Manuel Bandeira

* alusão à obra do médium Chico Xavier, que deu origem ao filme, lançado em 2010.

** autor espiritual do livro "Nosso Lar". Antes de ser resgatado e levado até Nosso Lar, André Luiz passa por uma zona chamada umbral, dimensão espiritual,onde são expurgadas as faltas terrenas.

P.S: registro aqui, minha homenagem, admiração e gratidão a Manuel Bandeira, Chico Xavier e André Luís.

Marcello Santos
Enviado por Marcello Santos em 25/01/2011
Código do texto: T2750874
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