Carta aos meus

Meus caros,

É verdade. Estou aqui novamente lamentando a distância que eu mesma criei de vocês. Optei por um caminho que era para durar um tempo e depois tornar a normalidade, mas fui sugada pelo turbilhão. Falhei. Agora estou ausente. E lamento.

Fiz outra escolha, guiada pelo coração. Lutei, lutei, sofri e chorei. Quase perdi as esperanças. E quando tudo parecia clarear, mostrou-se a ilusão. A verdadeira guerra morava nos dias que teriam que ser vencidos. Na dureza das palavras, na maldade do trato, na tenacidade das acusações veladas.

Num morde e assopra cruel, quando chego ao ponto de pôr fim a tudo, vem a candura. E este sistema de aprisionamento que faz de mim perdida e insegura, sem conseguir saber qual o caminho certo. O amor deu as mãos à crueldade e juntos se revezam como carcereiros da minha alma.

E é aqui que não acho justo pedir a sua ajuda. Porque quando o mar de rosas se abriu na minha frente fui egoísta e fechei os olhos para vocês. Agora que a dor me abate, peço guarida. Não é justo, então opto por deixar que as lágrimas sejam sorvidas pelo travesseiro, companheiro mudo, transporte para onde as dores se curam.

Ali, do outro lado da porta, está o depositário de tantas esperanças. Lutei tanto, vocês sabem, que não consigo aceitar que tenha errado. Houve, e há, uma bela base, mas sua solidez se dilapida a golpes ferinos de palavras injustas. E cada lágrima, derramada ou contida, leva consigo um pedaço deste amor.

Mas vocês não merecem ouvir minhas queixas. A vocês, que mal nenhum me fizeram, devo sorrisos. E a cada dia para não puni-los crio uma roupagem frágil de perfeição. O personagem cala a esperança de que a máscara cole na cara.

A minha personalidade, outrora forte, vigorosa e bela, é usada como motivo de desonra. E preciso despir-me do que fui para manter o que desejo. Perdi as minhas cores.

Não lamentem, amigos, se eu deixar de ser quem eu sou. Se eu sumir um pouco, apagar um pouco. Não é novelesco, não faço drama, só assumo as perdas por uma escolha. Preciso ser só e pouco, para estar onde escolhi estar.

Só peço que torçam para eu ficar bem. E não chorem, se eu não ficar.