Carta de uma Mãe Má
Querido irmão,
Eu estou numa fase tão ruim. Estou me sentindo muito triste e culpada. Por isso, resolvi escrever essa Carta pra você.
O que eu mais quero é tentar me distrair um pouco e ver se eu encontro uma saída para a situação difícil que estou passando.
Você sabe bem que nossa vida nunca foi fácil. Mesmo que nossos pais se preocupassem muito com a gente, eles nunca puderam dar tudo o que eles queriam pra nós. A nossa vida era muito difícil, mas sempre tivemos amor por parte deles.
Você sempre foi muito trabalhador e responsável. Desde cedo aprendeu a se virar sozinho e nunca deu dor de cabeça pra ninguém. Cada um de nossos irmãos e irmãs é bem diferente, por outro lado você é o exemplo pra família. Todos nós sempre confiamos muito em ti.
Você sabe bem que eu não era nada fácil. Eu era uma adolescente rebelde e acabei engravidando antes do tempo. Naquela época, tive um monte de problemas com meus pais, mas graças a Deus encontrei apoio de você.
Lembro que todo mundo ficou muito preocupado com o meu futuro; todos pensavam que eu iria arruinar minha vida, pois ninguém queria que eu me tornasse uma mãe solteira.
Felizmente, eu e meu esposo nos casamos e superamos aquela situação conturbada. Hoje, sei que tenho o respeito de minha família e estou feliz com meu esposo, por que ele me ama e cuida bem de mim.
Mesmo sabendo que agora estou tocando minha vida de casada sem ter que depender dos outros, ainda sofro por causa da gravidez sem controle.
Sei que muitas adolescentes acabam engravidando antes do casamento. Isso tem sido cada vez mais comum, mas não sei como cada pessoa reage a essa situação.
Eu sofri muito com a revolta de minha família. Eu chorava demais com tudo aquilo. Tinha uma culpa enorme por ter passado por aquilo. E, para piorar tudo, acabei descontando aquela dor no meu filho.
Sei que é triste demais admitir isso, mas desde o inicio da gravidez passei a desprezar o meu filho. Deus me perdoe por estar falando essas coisas, mas nunca tive amor por ele.
Essa rejeição que tenho por ele me deixa impaciente demais. Toda hora que ele precisa de mim eu fico agressiva e acabo descarregando minha raiva nele. Eu bato nele o tempo todo, por qualquer motivo.
O meu marido tenta me acalmar. Ele pede para eu ter mais paciência, mas eu não consigo controlar a minha raiva. E, toda vez que bato no meu filho, a minha consciência me acusa que eu estou fazendo algo errado. Ela dá uma pontada forte no meu coração me dizendo que estou fazendo uma maldade.
Eu sou tão fria com meu filho. Tem vezes que eu trato ele como se ele fosse um inimigo meu, como alguém que eu não quero chegar perto.
É triste dizer, mas eu nunca consigo abraçar meu filho. Não consigo fazer um carinho nele. Para mim é difícil ficar a vontade perto dele. Nunca faço um elogio nem digo nenhuma palavra bonita pra ele. Eu só xingo, falo palavrões e bato nele o tempo todo.
Às vezes, ouço os comentários dos vizinhos e de pessoas da rua dizendo que sou uma mãe muito má, por que eu bato no meu filho o dia inteiro, com tapas, puxão de cabelo, chineladas, beliscões e até com chutes e pontapés.
Nunca imaginei estar numa situação dessas. Sinto uma culpa muito grande, pois eu sei que os vizinhos estão certos.
Ninguém precisa dizer, pois eu mais do que ninguém sei que sou uma mãe má mesmo; eu sou uma mãe ruim; uma mãe que não ama seu próprio filho.
Desculpe pela sinceridade das palavras. Mas eu só estou abrindo meu coração desse jeito, por que você é meu irmão de sangue e sei que posso confiar em ti.
Peço que me aconselhe o que fazer, pois estou desesperada !!!
Açailândia - MA, 20 de janeiro de 2011.
Maria do Socorro
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Ilha de Marajó – PA, Janeiro de 2011.
Giovanni Salera Júnior é Mestre em Ciências do Ambiente e Especialista em Direito Ambiental.
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br