Carta a Um Amor em Desespero
Escrevo essas linhas, pois muitas vezes minhas palavras não saem de acordo com aquilo que eu sinto, penso ou quero dizer.
Devo ser complexado e/ou traumatizado em relação aos meus sentimentos e em meio ao meu romantismo sonhador... Aquilo que eu deveria ser e ainda não consegui deveras nem chegar perto do desejável. Na sua ausência sinto sua falta e gostaria de ser mais amoroso, já na sua presença teimo em não aceitar suas palavras e ainda falo aquilo que não gostaria de ter dito.
Quero receber seus sorrisos e carícias de incentivo todo o tempo de minha vida, apesar das reticências e espizinhamentos que ainda teimam em acompanhar meu comportamento. Saiba que a quero bem e desejo lhe ofertar algo além dessa minha carrancuda fisionomia e dos maus comportamentos que às vezes tenho tido.
Pareço a mim mesmo uma criança assustada sem saber como prosseguir com nosso amor, tímido, às vezes pálido, pequeno, de momentos frágeis, de cortes intempestivos e frequentes, como uma sombra de não sei que passado que teima em nos acompanhar. Apesar disso, sempre sonhei e continuo a sonhar com algo mais duradouro, terno, eterno, frequentes sorrisos, compreensão incondicional, paciência e muitas carícias... Oh! clara e longínqua realidade!
Como posso não machucá-la e ao mesmo tempo não ser ferido? Imagino que além do meu esforço e de me conter com minhas palavras, que lhe incomodam, você pode guiar meus sentimentos, corrigir minhas palavras e mostrar uma maneira melhor de ser, com amizade e carinho, como você faria com um filho seu. Preciso de você, da sua ternura, do seu sorriso, da meiguice do seu olhar pra eu me corrigir.
De uma coisa eu sei perfeitamente: Não quero sua raiva, impaciência, intolerância ou coisa que o valha, nem mesmo o rótulo de não aceitar aquilo que me apontas. Sei também que tenho tudo isso que não quero em você, mas quero acertar, melhorar e transformar. Só o amor pode nos conduzir a isso.
Peço apenas que naqueles momentos mais difíceis não esqueça meu lado bom, que vem lutando pra ser maior, mais presente, mais vivo a seu lado. Não me jogue nos meus subterrâneos sombrios, pois custo a sair deles após uma briga e as acusações de sempre. Fico pensando se algumas pessoas que conheci também não iam pra lá e se afundavam nas suas águas mais frias e lodosas, quando ficavam dias com a cara amarrada e sem conversar com ninguém.
Preciso do Sol, da alegria, do bem viver, sem sobressaltos. Será que não conseguirei amá-la sem feri-la?
Será o meu destino ferir a quem amo?
Como posso sair desses labirintos do meu ser?
Se pensar resolvesse, já tinha saído há muito tempo. Sei que é a prática que conta... lá vamos nós... e de repente tudo desmorona de novo.
Será que estou precisando de um psicólogo? De algum tratamento?
Na minha infância minha mãe dizia que tinha medo que eu ficasse igual ao um Tio meu, meio doidão, introspectivo, implicante, impertinente, inoportuno, uma grande incógnita em minha vida...
Ah, as palavras ditas na infância marcam para sempre aqueles seres indefesos... Penso também quais palavras eu disse aos meus filhos que marcaram suas personalidades... Algumas eu já recebi de volta como lanças cravadas em meu coração, quanta dor a ser purgada!
Na minha adolescência trilhei caminhos doidos de desatinos, busquei nas drogas refúgio e cheguei ao fundo do poço. O nosso casamento aconteceu no meio desse redemoinho de desvario e viagens que fiz à época, com a pouca experiência daquela juventude rebelde.
Fico pensando se existe conserto para todos esses desacertos do meu passado, embora muita coisa tenha ficado para traz, graças a Deus e a um Grande e Verdadeiro amigo que encontrei em minha vida. Será que posso ainda ser feliz de modo mais pleno? Sem brigas, erros e desentendimentos? Temos ainda tempo de consertar o que não anda tão bem? Existe diálogo a respeito daqueles pontos mais sombrios do nosso relacionamento, que causam tantas dores e mal estar?
Sinto que nossa sede de amor está esfriando... Nosso diálogo está frágil, pequeno. Nosso jardim ressecado de boas palavras, necessitado de flores e das folhagens verdes da esperança. Precisa de reparos urgentes. Você já notou isso?
O que lhe pedi anos passados? Adiantou alguma coisa ou está do mesmo jeito? De lá até aqui quantas vezes já nos desentendemos? Serei apenas eu o culpado de tudo isso? Alguém tem culpa ou será nosso destino se desencontrando? O que tem por detrás de toda essas dificuldades? Ah, meu Deus, quantas perguntas sem respostas!
Pensei em fugir, me retirar e ficar um tempo só. Sei que não vai adiantar nada, um relacionamento a dois é de mão dupla, é um ir e vir sem fim. Sei de tudo que deve ser feito, mas além de tudo, existe algo mais...
Não estou aguentando mais, estou pedindo socorro. Preciso de você! Quero você mais perto de mim, necessito do seu calor, dos seus beijos, do seu amor.
Florianópolis, 20/03/2009