O Fim
Acabou. No fim, não passou de mais um fim. O diferente deste fim a que me refiro é que ele encerra - obviamente, mas não me ocorreu outra forma de me expressar - algo que sequer começou. Foi a ilusão do poeta que reside em mim que criou a coisa toda. Houve fim dentro de mim e dentro de você não houve nem um começo. O que acabou não foi no conjunto, foi aqui dentro. Eu sabia que um dia acabaria, que um dia os arrepios cessariam, que as utopias seriam banidas do meu ser, mas eu não imaginava que a morte desse sentimento carregaria junto o poeta que um dia eu julguei ser. A morte do amor, a morte do poeta. A morte da poesia. A morte da Morte. Hoje não há mais redenção com as palavras. Nem do sentimento e nem da poesia. Nem do seu semblante endeusado pela minha tolice. É estranho olhar para trás e não ver nada. Andei durante tanto tempo nessa tempestade, protegendo os olhos do futuro que agora que olho pra trás não vejo pegadas. A tempestade fez o favor de escondê-las para que eu não retrocedesse, para que eu não voltasse a trilhar esse caminho capcioso da vida. Aprendi a lição e agora só te enxergo como mero ser humano. Conglomerado de células, sangue, ossos, tripas. Nada da deusa. Nada da musa. Você caiu dentro de um abismo dentro de mim e ressuscitou humana. Perdeu o encanto. Não sei o que houve. Só sei o que houve. E houve o de sempre: o fim. Ele é a única certeza. O fim é a única certeza, amor.