Desculpe-me por ter lhe traído, por ter me desrespeitado.

Já faz muito tempo que não nos vemos, sequer nos falamos, trocamos mensagens ou assemelhados. Meios de comunicação não faltam, mas não são capazes de romper a distância de nossas almas. Não vou perguntar como isso aconteceu. Sei de cor e salteado todos os nossos porquês. Entretanto, eles não foram verbalizados. Quero dizer, enchi minha terapeuta, família, amigos e a mim com eles. Ruminei todos e os rumino até minha completa exaustão. Então durmo até exaurir o cansaço de pensar em nós. Aos poucos isso tem sido menos recorrente, mas cada recidiva me faz recordar a tristeza do que fomos um para o outro.

Você sempre teve o medo machista de ser traído. Eu sempre tive o medo feminista de não ser respeitada. Apesar de minhas pulsões, fui fiel. Não lhe traí, embora em muitos momentos desejasse por vontade ou por vingança fazê-lo. Mas não o fiz porque você era mais importante do que qualquer desejo justo ou injusto. Trair ou não trair nunca foi importante para mim. Mas você queria que o fosse. Então, tentava me convencer de que minha moral estava errada, que seria necessário incorporar a moral cristã que condena o adultério simplesmente por condená-lo. Eu não condenei o adultério pelos outros, mas o condenei por amor. Eu não apenas não lhe traí, como lhe respeitei. Mas, para você, uma barreira racional não seria tão eficiente como uma barreira moral. Então, foi construindo outras, diminuindo meu espaço de atuação. Um dia me senti claustrofóbica, em pânico. Não conseguia respirar. Qualquer palavra, gesto ou ação poderia ser usada contra mim. Seria usada contra nós. O medo de lhe ter e de não lhe ter se instaurou. Já não sabia mais o que desejar.

Então percebi que havia sido traída. Não sei se você copulou com outra, sinceramente, isso não me importa. Isso talvez fosse a confirmação de sua falta de generosidade. Se minha moral não lhe bastava, nada lhe bastaria. Mas você parecia feliz, sorria, se alegrava de pensar que estava no controle da situação. Dizia que finalmente eu lhe provara o meu amor. Sua felicidade era a minha anulação. Não lhe disse palavra sobre isso. Você não entenderia. Disse adeus. Você, tão seguro que estava de si, pensou ser um até breve. Não fez qualquer objeção. Quando percebeu, eu estava longe, profundamente triste, catando os cacos do que sobrara de mim. Então se sentiu sozinho, impotente, traído e desrespeitado, vitíma de uma atriz, capaz de lhe fazer acreditar que estava certo. Aprendeu da forma mais dura que a areia escapa da mão fechada.

Sinceramente, sinto muito por ter lhe traído. Por ter me desrespeitado. Fui vingativa e desonesta. Rompi o nosso pacto. Você nunca assinou a cláusula do respeito e eu não deveria ter concordado.

LUCILA GRACINDA
Enviado por LUCILA GRACINDA em 12/01/2011
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