Kisses Over Babylon

O que eu tento dizer é que o nosso silêncio é que é eloqüente, completa-nos mais do que com palavras trocadas. Aliás, eu não tento dizer. Apenas olho e tento transmitir via telepatia. Com a mente, tento atravessar essas garrafas de cerveja que estão entre nós nessa mesa de bar. A ebriedade dá seus primeiros sinais de vida. Um giro ocular nonsense aqui, outro ali. Tem um palerma da mesa ao lado com os olhos vidrados em você. Não o culpo. És atraente, com seu riso tímido, com seus traços que oscilam em perfeita harmonia entre o agressivo e o calmo; essas orelhas que passam um dedo médio de adulto e esse pendulo metálico de freio labial. Com os demônios que eu vou agüentar esse malandro te cultuando com o olhar, desrespeitando a minha presença! Por outro lado, temos que manter a discrição, evitar comentários e olhares dos nossos amigos que não sabem da nossa tórrida atração. Fingem não saber, eu sinto isso. Conhecem-nos bem demais para não perceberem nossa troca de olhares que já dura horas. Bem demais para não preverem que em breve eu vou segurar as suas mãos e afagar o seu rosto, já corado pelo álcool, e começar a dialogar com você, um assunto fora do papo sobre carros que rola solto na mesa. Me levanto e me posto a seu lado e, incitado pelo instinto, alcanço seus lábios quase sem fazer esforço pois eles são atraídos pelos meus assim como o mar é atraído pela e para a lua. Fogos, silêncio, o lúpulo peculiar de cada um de nós se misturando, se juntando à sinergia dos nossos fogosos e ousados movimentos. Já esqueço os amigos, a conta por vir, o palhaço que te admira. Só penso em dormir ao seu lado e procrastinar o seu retorno ao lar o máximo possível. Colocar o anelar na sua orelha, sucumbir aos seus gemidos e à sua loucura cheia de volúpia, ao cheiro que exala de sua cornucópia do pecado e prazer. Que nos deixemos levar pelo relógio, indiferentes à ele. Uma tarde fria e cinzenta de domingo poderia ser a culminação dos meus pesadelos de solidão se não fossem seus abraços sob o manto vermelho da luxúria. Não fosse seu cozinhar improvisadamente maravilhoso, seu hálito de alho e cerveja, seu doce e cavernoso e cálido mel. Sua intromissão no que ouço, seu esmalte vermelho, as confissões de um passado estranho num presente bizarro e inesperado. Os pequenos medos, os melancólicos olhares para o céu, de como quem se pergunta sobre o que fazer. Ah, doce inferno, doce risco, doce arriscar, doce arisca, doce fêmea doce, se eu tivesse o poder de atrasar o relógio e fazer a Terra inverter a transalação você estaria comigo aqui, agora. Vem?

05/09/2010

Edward Sharpe & The Magnetic Zeros - Om Nashi Me

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 11/01/2011
Reeditado em 11/01/2011
Código do texto: T2721882
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