Eu te adoro só pra não dizer Eu te amo

Diário de uma solitária

Ontem, depois de muito relutar resolvi pegar o telefone portátil e discar o seu número, tive medo de que talvez não quisesse atender e ficar ouvindo aquele Tum Tum chamando me despedaçava. Porém, para minha surpresa o soar de sua voz penetrou nos meus tímpanos, como um sinal de que havia algo a se dizer... A ouvir. E então falamos, no primeiro instante parecíamos dois robôs programados, calculados, com respostas educadas, afáveis do tipo "tudo bem? Estou ótima e você? eu também, que bom"!

Mas que merda era aquela, o que estávamos querendo impor, a nossa inútil educação, a cortante indiferença de duas pessoas que no passado se amaram e se desejaram tanto, o que estávamos falando? E todos os nossos planos de viajar pelo litoral, e todas as vezes que viramos a madrugada no banco traseiro do seu carro, comprimidos, convulsionando, gemendo. Lembra-se?

Tudo que vivemos durantes esses longos quatro anos de espera. Tudo começando com a minha conturbada entrada na faculdade, uma menina medrosa, que estava a quilômetros de distância e se viu impulsionada a voltar, obrigada pelo destino a agarrar com unhas e dentes uma chance de crescer... Mas não era isso que eu queria! Não exatamente, você sabe!

Então quando minha irmã falou de você fiquei curiosa, trocamos o msn, o bendito msn! Viramos amigos, confidentes... Depois nos apaixonamos, mas você tinha alguém. Droga... Porque estou falando de tudo isso?! Se conhece todo esse enredo e a minha prolixidade enfadonha.

E aquele telefonema tão seco e áspero, o pior de tudo era a desfaçatez de nosso timbre, as pausas que mais pareciam golpes no vazio, a educação exagerada, o puro cinismo. Foram 3 minutos e 29 segundos que terminaram com um singelo te adoro e se cuida.