Aos meus velhos e eternos amigos... ETROM 01
Gostaria de ter a presença e criticidade dos meus velhos amigos nesta hora.
Gostaria de ter a sensação de confiança que tinha quando em minhas crises de ETROM, eu tinha vocês para me ouvir e para avaliar minhas teorias sobre a minha vida de adolescente.
A grande novidade que eu descobri é que minha ETROM não tem cura. Neste um ano e meio que estive muito empolgada com meu casamento, e principalmente com meu filho as coisas ficaram mais calmas. No entanto, sentada em uma mesa da escola, preparando uma festinha para o dia dos pais, me deparei com um texto que novamente abalou minha estabilidade.
A grande novidade é que eu não me esqueci das minhas decepções, que eu não superei as minhas dores, que eu não curei as minhas feridas.
A grande novidade é que continuo sendo egoísta, agressiva e intolerante. Continuo tendo pesadelos, insônia e dores de cabeça. Continuo sendo sonhadora, aérea, fantasiosa. Continuo sendo insegura, ansiosa, carente, medrosa, incapaz de falar em público.
Continuo sendo tudo o que era quando vocês me conheceram. Eu não mudei.
Mudou-se o ano, mudou a minha profissão, mudou a minha casa, mudaram o meu corpo, os meus amigos, os meus lugares, a minha rotina, a minha vida. Mas eu não mudei.
Continuo sentindo toda a tristeza de quando vagava pela net procurando companhia para escrever poesias e discutir a ETROM. Continuo sentindo todo o vazio de quando não tinha ninguém para apreciar as minhas qualidades. Continuo me sentindo transparente, invisível.
Continuo tendo poucos amigos e muitas lembranças. Continuo indo dormir a noite com essa dor no peito, com essa sensação de solidão, de incompreensão, de falta de carinho.
Olha o que uma festinha de dia dos pais fez comigo. Apenas um texto foi capaz de desenterrar toneladas de poeira que eu já havia escondido embaixo do meu tapete.
Não pensem que é fácil assumir todas essas a-qualidades que tenho, nem pensem também que quero me fazer de coitadinha quando ajo assim. Acontece que quanto menos eu falar (na verdade escrever), mais eu vou sofrer remoendo essa sensação, interrompendo o meu sono e consumindo o meu dia; mais eu vou perder a paciência com meu filho e meu marido; mas eu vou me afastar dos poucos colegas que me restaram [colegas], porque amigos, [falsos amigos], esses já se afastaram há muito tempo.
Espantaram-se com a minha gravidez. Espantaram-se com a minha capacidade de fazer tudo o que a boa sociedade não recomendava. Afastaram-se por eu gostar de rock, rpg, matemática. Se “espantafaram” quando eu tive um filho, quando arranjei um emprego, quando comecei a cozinhar.
Acharam-se moralmente melhores que eu.
E eu fui ficando sozinha. Sem ninguém para me ligar, pra marcar uma saída, pra comer uma lasanha. Sem meu grupo de música, sem meu grupo de dança, sem colegas de faculdade, sem colegas de trabalho. Sem ninguém para chamar pra conversar, pra chamar pra assistir um filme, comer pipoca, musse, sorvete, chocolate.
Eu fui ficando sozinha. Minha vida social se resumiu a meu filho, meu marido, meus sogros, minha mãe, o grupo de rpg. Mas nenhum deles eu posso chamar de meu amigo de infância, minha melhor amiga, meu amigão do peito. Tirando a minha família, minha vida social resume-se a colegas de jogo.
Sinto falta da presença e da criticidade dos meus amigos nesta hora. Sinto falta de quem leia os meus textos e me dê sugestões. Que me diga falsamente que está maravilhoso, mas que poderia melhorar em tal coisa assim e assado.
Só para constar: nunca mais consegui escrever em A Protegida.
A~Escritora Sabrina perdeu a inspiração....
Temporariamente...
Espero...
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