Carta de uma Criança Sofrida

Quando eu era mais novo não tinha condição de dizer o que eu sentia. Agora que estou mais crescido já entendo melhor a minha vida, e o que eu vejo não é nada bom.

Os adultos não sabem, mas as crianças sabem de tudo que está passando. Eu sempre via meu pai maltratando minha mãe, e ficava calado por medo ou por não saber bem o que fazer.

Eles achavam que o meu silêncio era porque eu não via nada, mas eles estavam enganados: eu via tudo, tudinho mesmo !!!

A gritaria, os palavrões, o bate-bate das portas me assustavam demais. Aquilo me deixava muito triste, mas eu não sabia bem como dizer o que eu sentia.

Demora um pouco pra gente entender as palavras bem para poder colocar pra fora o que o coração sente. O único jeito que eu sabia era ficar calado, engolindo as lágrimas.

Era ruim demais ver seus pais dando mais atenção pros bichos de casa, os nossos cachorros e o nosso gato siamês. Eles sempre trataram melhor os bichos e as plantas de nossa casa.

Eu sempre ficava no canto, sem receber atenção nenhuma. A única alegria que eu sentia era comer. Eu comia o tempo todo para sentir alegria. Essa era a minha única satisfação. Toda vez que eu estava comendo doces, bolachas e salgadinhos esquecia a tristeza. Era como seu eu estivesse num filme bonito, como o filme do Harry Potter.

O que eu mais queria é sentir que os meus pais me amavam de verdade. Eu queria que eles demonstrassem amor e carinho por mim.

Eu era bem tratado pelas tias da Escolinha, mas quando chegava em casa não tinha nenhum gesto de atenção, como, abraços, beijos e brincadeiras. A única coisa boa que meus pais me davam era comida e doces. Mas o que eu queria mesmo era que eles brincassem comigo e ficassem do meu lado, sem brigar.

Eu amo meus pais e gostaria que eles me amassem também !!!

Rio de Janeiro – RJ, 03 de janeiro de 2011.

Joãozinho

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Ilha de Marajó – PA, Janeiro de 2011.

Giovanni Salera Júnior é Mestre em Ciências do Ambiente e Especialista em Direito Ambiental.

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br