GALARDÃO

Caro amigo Obery,

Acuso o recebimento, hoje, do envelope contendo o convite para prestigiar a posse dos novos sócios do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP). Infelizmente, o nosso serviço postal não prima mais pela rapidez na entrega e, devido a esse atraso, eu acabei de assumir, hoje pela manhã, um compromisso para esta sexta-feira – dia de sua posse –, aqui em Mossoró. Mas, não tem nada não, Obery, daqui de nossa terra, eu estarei acompanhando, com o pensamento mais do que positivo, tão importante solenidade.

Meu amigo, como eu poderia exprimir a satisfação e o prazer de ler, na lista de novos sócios, o seu nome! A alegria foi, quando vi e li, indescritível de se desenhar no papel. Devo dizer, porém, que o Instituto está apenas ratificando um nome que deveria estar em seus quadros, já há bastante tempo. Entendo, no entanto, que, para se reconhecer o talento e a contribuição literária de um escritor, o tempo serve como o “endossante” das ações, produções e colaborações - coisas que o amigo construiu nesses anos todos dedicados à cultura do nosso Estado e, principalmente, da cultura da região que completa o nome do ICOP.

Ah, meu amigo! Viu como as abençoadas chuvas de Mossoró foram férteis e adubaram o terreno que você começou a plantar quando escreveu o seu primeiro livro? Trazer lá do passado as lembranças daqueles que fizeram, anonimamente, a história da nossa cidade não foi em vão. Da mesma forma, enaltecer, “merecidamente”, os homens “de sabedoria” que aqui viveram – e que fizeram parte, também, de sua história – carimbou, em almofada de tinta permanente, a maior virtude de um homem: a humildade de reconhecer, nas mais variadas personalidades de Mossoró, o conhecimento – tanto nas coisas escritas e bem rebuscadas, quanto nas coisas ditas de forma simples e que se tornaram máximas, enriquecendo, ainda mais, o cenário cultural – de revelar os valores do chão mossoroense.

Digo “de sabedoria”, meu amigo, em virtude de ter acompanhado, no jornal Gazeta do Oeste ou nos livros, “Crônicas Anacrônicas” e “Memorial dos Amigos” – as crônicas que tiraram do anonimato algumas das figuras públicas que eram somente conhecidas em seus bairros e/ou somente entre seus amigos mais próximos, e os apresentou a toda a sociedade cultural da cidade, do estado e, até, do país. Mas, por que sabedoria? Ora, o escritor também é um pensador, um crítico, pesquisador das palavras, principalmente, dos seus diversos significados. Por isso, quando escreveu “Os Homens de Sabedoria de Mossoró”, o amigo teve o cuidado de separar – embora não deixando de questionar o real significado – o entre ser sabido e o ser sábio, creditando, para cada palavra, àqueles seres capazes de se destacarem entre os demais e, com isso, influenciarem uma tomada de decisão, um caminho a ser seguido ou um conselho a ser copiado. E foi mostrando que o saber não se restringe apenas aos que detêm o conhecimento transcendental, de “grande sapiência”, nem somente àqueles que criaram/criam uma doutrina, ou a alguém que tenha revolucionado a ciência, que o nobre amigo apresenta, através do sentido diversificado da palavra saber, contido no dicionário de filosofia de Nicola Abbagnano, o filósofo mossoroense, de vida humilde, Francisco João de Castro – marceneiro de profissão e semianalfabeto, mas que encantava pela sua sabedoria ao transmitir o que pensava para os homens mais cultos da sua sociedade.

Em “Filosofando”, você, meu amigo, reúne uma gama de bons filósofos mossoroenses. Alguns, reconhecidamente através da própria formação acadêmica; outros, reconhecidos pelos intelectuais de nossa sociedade como sendo uma figura que conseguia colocar, no menor espaço possível, as melhores cabeças pensantes dos diversos segmentos: social, político, cultural, financeiro e literário da região, como foi o caso do sapateiro Lindolfo Arruda, citado pelo mestre Dorian Jorge Freire como sendo um “filósofo da vida”.

Mas, tudo isso está contido nos seus nove livros publicados. Uma obra completa que abrange todos os aspectos étnicos de uma sociedade, pois excursiona desde o mostrar as lembranças e a história de Mossoró até as doces memórias do profissional bancário que galgou todos os degraus hierárquicos do Banco do Brasil. São opúsculos indispensáveis para qualquer biblioteca pública – ou particular – e que dão a dimensão da importância do escritor Francisco Obery Rodrigues para o patrimônio cultural do nosso município.

Por tudo isso, meu amigo, você é merecedor, primeiro da homenagem; segundo, de ter sido convidado para compor, com a sua inestimável experiência de vida, uma cadeira em tão importante instituto, que é voltado para o bem maior de uma nação: a cultura.

Vejo, aqui, em minhas imagens de puro deleite pessoal, o amigo sentado à janela do seu apartamento vendo, talvez, como disse, por mais de trinta mil vezes, o pôr do sol, enquanto espera chegar a hora de ser diplomado no Memorial Câmara Cascudo. Tenho certeza absoluta de que o seu pensar ainda é sobre “as coisas de Deus”, autenticado na reflexão: “Que suprema maravilha encerra a Natureza! Ela se estruturou por si mesma, ao longo de bilhões de anos, chegando a esta impressionante perfeição, ou Alguém fez tudo em apenas os fabulosos “sete dias”? – imortalizados na crônica “O Nascer e o Pôr do Sol”, publicada, no ano de 2010, no caderno Expressão do jornal Gazeta do oeste.

Por fim, quero lhe dar os parabéns – como se fosse eu o primeiro da fila, na sala de cumprimentos do local – e desejar-lhe profícuos trabalhos que, sem sombra de dúvidas, serão tesouros para a posteridade e, acima de tudo, fontes de pesquisas para aqueles que quiserem, assim como você quis, deixar um legado para a sociedade de seu país. Fique com Deus, meu amigo. Deus o ilumine. Feliz 2011!

Um abraço apertado,

Raimundo Antonio de Souza Lopes


 




Foto tirada em 1972 e publicada pelo blog www.azougue.com/conteudo/dobumba178.htm. Obery é o primeiro sentado da esquerda para a direita (foto dos funcionários do Banco do Brasil. Obery foi funcionário por 32 anos chegando ao mais alto posto dentro da instituição).



Mossoró/RN, 17/12/2010.



Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 02/01/2011
Reeditado em 04/02/2012
Código do texto: T2704632
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