MONÓLOGO DA MESMICE

Olá,

Escrevo para quem desejar as mesmas coisas desse ano, no próximo, que chega na cadência da tartaruga, afinal o tempo demora a passar...

Conforto. Vivo confortavelmente acomodada por entre as almofadas do ócio, enfrentando tudo da mesma maneira. Parada. Dizem por aí que a vida não foi feita para a estagnação. Mas ninguém nunca enxerga meu lado bom. O mesmo caminho, o mesmo ônibus, as mesmas pessoas, a mesma comida. Todo dia fazendo tudo sempre igual. Escreveram isso especialmente para mim.

Vivo das estupefaciências que a vida me proporciona. Não gosto de ser incomodada e não incomodo ninguém. Não me posiciono. Tampouco mudo a posição de alguém, ou alguém de posição.

Para que esforçar-me e arriscar-me a perder uma estabilidade garantida? Ousar é loucura, desvario profundo. Sabendo de todas as perdas que posso vir a ter, prefiro a necessidade primeira, única e exclusiva. Barriga cheia, sombra e água fresca.

Se os prazeres são efêmeros na duração, são eles duradouros em quantidade. É delicioso conviver entre o prazer de cansar do nada e não fazer nada, evitando o cansaço futuro. Se desperdiço meu tempo, economizo energia. Estacionar num ponto é não correr o risco de não encontrar lugar no ponto futuro. Além do mais, posso viver de dois tempos. Do passado e do presente. O passado não muda e o presente continua o mesmo. Como profissional, nunca mudei de cargo. Meu dinheirinho sempre esteve na conta. As cifras também não se mexiam muito. Mas digo com clareza que a certeza sempre esteve perto de mim. Não dou muito espaço à dúvida, embora a Dona Novidade, me encha de questões pertinentes ao meu estilo vida.

Mas, particularmente, considero a Novidade uma louca, a insana que busca o que não está ao alcance dela. É muito trabalho para alcançar algo muito distante.

Prefiro estocar energia e usá-la para fazer as mesmas coisas, cultivar os hábitos aprendidos no passado, com os antepassados, descendentes de Dona Crença, uma simpática senhora que conheci nos tempos de menina, cujos valores cultivei e interiorizei. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Sábias palavras de Dona Crença, que pautarão minha vida, eternamente.

Ass: Mesmice de Sempre.

Nota: para melhor compreender esse texto, leia também "Monólogo da Novidade".

Marcello Santos
Enviado por Marcello Santos em 31/12/2010
Reeditado em 02/01/2011
Código do texto: T2701911
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.