All the time - parte 1

Bom dia.

Isso vai soar mais estranho do que você possa imaginar, mas já começo o dia pensando em você. Provavelmente também isso soe mais clichê do que você possa suportar, mais do que meu próprio estômago consegue ficar sem embrulhar também (tenho uma espécie de ataque de gastrite romântica – o que não me impede de sê-la, de fato). Nesses últimos dias tenho ficado mais na cama do que o que é de costume, férias semestrais finalmente chegaram. Permito-me dormir quase pela manhã, mas de qualquer forma, algo sempre me desperta às oito. Talvez um anjo maroto (se é que anjos existem) que tem prazer em me ver abrir os olhos e imaginar você acordando, tomando banho, se vestindo, indo para o trabalho. Ainda não consegui decidir se você toma ou não o café-da-manhã – acho que sim. É. Você toma sim. Talvez algo simples, nada de frutas (acho que você não come frutas, mas deveria), um pão simples com manteiga e café... Hum... Com leite. Porque é o meu favorito. Talvez você mordisque algumas bolachas doce do tipo Maisena, quem sabe leve o restante do pacote para comer no intervalo do emprego (lembro uma vez em que você praticamente devorou um pacote inteiro na minha frente, de madrugada). Bem... Daí você toma o café, se despede de quem fica em casa e sai. Eu escuto a porta do carro se abrir (que carro você tem?), você se ajeita no banco, abre as janelas, liga o motor – exatamente nessa ordem. Coloque o cinto. Quero você vivo.

Antes de fechar os olhos e apagar novamente dedico alguns longos minutos pensando na estranheza disso. Sei que sou a única que penso assim, não importa. Mas me soa estranho, às vezes até tristonho, o fato de você simplesmente existir, de uma forma tão tangível, mas ao mesmo tempo tão inalcançável. Porque você é simplesmente o que eu queria, entende? Até esse seu jeito estúpido de ser às vezes (“para de me derrubar”, vai ele dizer), isso é o que eu quero, é o que eu pedi. Essa forma de me sentir tão confortável em sua presença me intriga. Quero falar, ouvir, absorver, extrair até o sumo desse tempo que dedica a mim. Talvez tenha estado cética demais sobre isso durante muito tempo – mas é simplesmente estranho respirar o mesmo ar que alguém a quem muito quero. É agoniante saber que você existe e que caminha, de verdade, sobre algum terreno firme desse universo, mas com passos que não podem chegar até onde eu estou.

Nunca lhe disse – ou talvez eu tenha dito – que o fato de você simplesmente agir de forma natural frente a tudo o que dissemos o coloca em um patamar nunca antes alcançado. É porque você ri leve do que eu falo e continua no assunto. Jamais fica horrorizado se de repente eu fizer uma pergunta idiota sobre sexo anal durante uma conversa sobre Deus (?). Não me sinto sozinha quando faz isso, é como se você tivesse se revestido de todas as qualidades que eu prezo e procuro em meus amigos – mas simplesmente quero você (all the time) como homem.

É pela manhã que ando pensando porque simplesmente não pedi que ficasse um pouco mais, ou que voltasse no outro dia. Queria que adormecesse do meu lado rindo dessas tolices inesperadas que lançamos ao vento. Queria que você não se assustasse tanto comigo, com o que tenho a oferecer, com o que quero para mim... Sei lá. Queria ter certeza do que pensa, ou que verbalizasse de forma mais direta o que realmente se passa aí dentro desse corpo que eu quero, algo que as pessoas costumam chamar de alma, sua essência, esse seu ser que você mal sabe como consegue esconder tanto.

E eu adormeço de novo rindo da ironia que existe nesse meu desejo: você também reclama de minha forma de colocar as palavras e idéias. Você as quer mais claras, e as reveste de uma preguiça de pensar – coisa que sei que não tem. Na verdade, o que você quer é que eu diga, logo de uma vez e sem rodeios, para que você não mais precise ficar na dúvida ou um pouco assustado que seja. Ou para que você treine uma forma doce de me negar.

Ah, meu querido, durmo rindo disso, porque eu já disse de forma direta tantas e tantas vezes! De repente o sorriso se mistura com uma pequena mágoa: a de que você não possui ouvidos detectáveis aos meus apelos.

Tenha um bom trabalho – e aqui imaginarei um pouco você conversando, com sua voz grossa e firme, resolvendo problemas e ficando estressado, até que o dia termine e você esteja cansado demais para se dedicar a mim, ainda que eu queira muito (e por infantilidade amorosa que todas nós mulheres temos, não admita).

Bom dia...

Wisdom
Enviado por Wisdom em 28/12/2010
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