MEU CORAÇÃO TEM PRESSA
Para Elen Keller,
As situações vêm bravas e me atacam sem avisar previamente, fico assim sem armas! Vejo então que eu – guerreiro – não tenho sequer onde embainhar a minha espada; não tenho também espada para ferir; não tenho riquezas. Mas, jamais estarei aquém de recursos, que, os meus, apesar de não atacarem, defendem-me. Estou despido de força bruta, não tenho o tom gostoso de quem é hábil com as palavras. Entretanto, o que corre nas minhas veias é sangue quente! O que me cobre dos pés à cabeça, é o teu carinho.
Teu carinho, que dizes não ter, é o que me faz todo teu, e me faz a ti me render. Pois, fico completamente seguro nos teus braços, como o vento quando tem liberdade para fazer ondas num lago parado, porém, apesar da mudança, não causa estrago. Sou assim, quando recolhido em teus braços, sinto que ao me fornecer carinho, também ficas feliz. É a tua felicidade, minha recompensa, para qualquer façanha. É o prêmio que mais almejo ao atravessar todos os planetas! Porém, é fora do espaço que me sinto feliz, é fora do nada que me sinto em paz; nos teus braços , encasulado na intimidade de tuas palavras, para nunca mais acordar.
Por outro lado, é muito gratificante para mim, acordar antes de ti, só para te ver e te fazer despertar. Com canções e declarações de amor, ver teus olhos recepcionarem mais um dia que, por te ter nele, é bonito, tem valor. Como explicar a faculdade tua de fazer bonito o que chamam de defeito? Por tuas mãos as pedras lapidam-se, as pétalas colorem-se... O defeito da preguiça em tuas mãos fica muito mais bonito. Não, não é a preguiça de que todos sofrem, é a preguiça que faz espontâneo o meu sorriso.
Acordas devagar e devagar abre os olhos. O sol te incomoda os olhos, ainda virgens de luz; teu corpo de mulher envolvido, além de nos lençóis, também na tua aura doce de menina. Menina, acordas, hoje, em tuas vinte e seis primaveras, como quando mal tinha meia dúzia destas no coração! Então levantas lentamente, e por mais lenta que sejas ao fazer isso, nunca perderás tempo, pois o próprio dia para os ponteiros para ver-te fazê-lo. Um espetáculo apoteótico que deixa os astros em depressão, já que transforma o eclipse deles, em maravilha secundária.
Teu cabelo dourado, teu cabelo desarrumado, maravilhoso espetáculo divino. Profanos são os olhos que olham o que desejam? As íris que acompanham passo a passo o que almejam? Assim são meus olhos, profanos e divinos. São divinizados pelo amor que tenho por tua alma, profanados pelo amor que tenho pelo teu corpo... Talvez, amor, as coisas mais completas do universo sejam as que possuem lados opostos, que discordam, mas unem-se. Será a “Pax Romana”? ou seria uma certeza mundana?
Nosso amor é composto destas oposições, tão bem vindas. A vida me fez ser diferente de ti em poucas coisas e te fez, sem querer, parte de mim! Assim, como eu nos teus braços sou parte integrante de ti. Logo, quando sofres, uma parte de mim também dói e contagia meu corpo... ao extremo: a te ver sofrer, prefiro estar morto! É mais seguro caminhar do teu lado: “– segura a minha mão...” Digo isto em sonhos, quando penso que estás sofrendo, chorando...
Amor, peço a ti que chore, quando quiser, nos meus braços. Afinal, sempre recorro aos teus nos momentos difíceis. Sempre os encontro abertos e aberta tua alma a desabafos e confissões. Encontro aconchego neste berço breve, que queria que fosse eterno. Venha, amor, ficar segura nos meus abraços. Como não a mim, não lhe faltará carinho nestas e em todas as outras horas. Meu coração tem pressa e o tempo também.
Carinhosamente,
Andrié Keller.