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Encontros, Reencontros...


Para uma Flor que renasceu...

Minha Flor

             Estou sempre repetindo a mim mesma e dizendo também a quem comigo caminha o quanto a vida é um milagre, o quanto é bom nos permitirmos encontros e reencontros que nos façam refletir, aprender e reaprender com as lições que a vida nos proporciona, nesses momentos.
            Adorei lhe reencontrar com sua linda menina, que vi bebê, hoje quase uma mocinha de sorriso encantador e olhar esperto!E como foi bom, sentir que o pior já passou, que vocês duas tem a vida pela frente e uma história linda de cumplicidade e superação.
            Quero lhe dizer o quanto me orgulho de você, do que se tornou. Criar filho com um companheiro do lado já não é uma tarefa simples, imagine fazer isso sozinha, longe da família. És uma mulher guerreira, uma sobrevivente!Fiquei muito feliz em constatar o quanto amadureceu e se tornou mais bonita ainda na sua serenidade e elegância, na condução do que é importante para sua tranquilidade e de sua menina.
              Estou feliz também porque percebi como reorganizou sua vida, restaurou sua autoestima e confiança. Lembrei daquela moça linda de olhar triste do passado e vi o quanto o tempo é nosso aliado ou nosso carrasco dependendo das nossas escolhas. E quando me disse que hoje fala disso sem dor, que antes era uma ferida na alma que sangrava diuturnamente, entendi e refleti o quanto o desamor é doloroso e cruel, o quanto uma escolha "errada" revira nossas vidas pelo avesso.
                 Sei, de verdade, que não deve ter sido fácil...Não imagino o que é a dor de ser abandonada pelo companheiro ao acabar de parir, ainda mais quando se é jovem, linda, cheia de planos e sonhos, achando que encontrou o amor de sua vida, que iniciava a construção de uma família...
             Lembro que à época, confessei minha perplexidade e, claro, não apenas por afeto mas e principalmente por convicção, tomei o seu partido: como ele pôde ser tão imaturo, tão cafajeste, tão irresponsável, tão desumano, tão cruel? Como pôde abandonar a companheira com um bebê no colo, fragilizada, assustada e insegura para exercer pela primeira vez, seu papel de mãe?
            Refleti como amiga de sua mãe, como sua amiga, como educadora , irmã de meninos, mãe de menino: que tipo de educação emocional recebeu esse rapaz?Qual a visão que construiu de mulher, de companheira, de uma relação afetiva que implica , além dos prazeres , responsabilidades ?
         Provalmente alguém vai refletir que sou de uma geração que "teve/tinha" esse respeito, essa responsabilidade com o outro como um princípio, um valor. Verdade, mas nesses novos tempos isso é tão anacrônico! Tão “Demodê !” Pessoalmente, considero que é algo tão importante que deveria ser ratificado como orientação básica na vida dos filhos e filhas, netos e netas de todas as gerações.
            Você me conhece, Flor e sabe o quanto sou absolutamente reativa a que qualquer pessoa, homem ou mulher, seja “obrigada” a viver numa relação que não lhe interesse mais, no entanto e com a mesma veemência, defendo que respeitem e sejam responsáveis com quem compartilha a vida com eles.
             Não desconheço de forma alguma que não é nada do outro mundo que, a certa altura da vida, os objetivos de vida em comum de um casal mudem de direção, tornem-se até antagônicos, que a rotina e a falta de uma comunicação afetiva esmaguem uma relação de afeto, que o encanto acabe.
            Não nego, em absoluto que ambos têm o direito inalienável de buscar o que acham ser melhor para suas vidas, mas reflito e reitero também que ninguém tem o direito ao "egoísmo supremo", a desconsiderar e desqualificar o outro, no seu sentimento, na sua dignidade.
            Também não desconheço ou ignoro que qualquer um ou uma de nós, mulheres e homens, mesmo vivendo uma relação estável, amorosa, amistosa e confiável do ponto de vista afetivo, podem, no seu convívio de trabalho e vida, "encontrar" alguém, se encantar, se envolver ...
             Sim, minha Flor, a questão não está no "encontro" em si mas na opção que se faz: jogar pro alto uma relação que não envolve apenas o casal, equilibrar sonho e vida real dentro de um tempo histórico/psicológico ou ainda entender que qualquer casal pode passar por conflitos dessa natureza e superar equilibradamente, construindo a compreensão que o movimento do afeto não está efetivamente atrelado a qualquer convenção.
              E aí, digo que você é mesmo uma sobrevivente. Não abriu mão de seus princípios, não quis viver uma experiência que lhe fazia mais mal que bem. E como é bom sentir que o turbilhão da vida não lhe transformou num ser amargo, que está tranquila e segura das suas escolhas!
           E digo também que, romanticamente e esperançosamente fico torcendo para que o amor e a felicidade lhe alcance de forma plena.Que a vida lhe seja agora e para sempre leve e serena como seu coração e sua alma merecem. Como vocês duas, mãe e filha, sobreviventes, merecem.
               Fica com Deus, Flor. Nosso reencontro e nossa longa conversa possibilitaram-me rever e ratificar o papel do sonho e do amor em minha vida. Possibilitaram-me ressignificar momentos que vivi e vivo, afirmar que a felicidade é meu caminho, meu destino, que também é e sempre será o seu e que é nossa obrigação lutar por isso.
               Beijo nas duas!