(...) ela me trazia uma saudade...
Tão inusitadamente...
Então passei a observar o jeito dela,que se punha ali estática,toda vez que eu me voltava pra janela.Era costume,repartir aos pombos as migalhas do meu café.Toda tarde,via quando ela me seguia, pelo canto dos olhos,atravessar a segunda cortina,fina,do mesmo cômodo e rapidamente mudava alguns passos.Menina estranha - eu dizia. De propósito assustava os bichinhos só pra vê-la com as mãos,esconder um sorriso;acompanhando no céu as aves dançando sobre o mesmo lugar.Ela me trazia uma saudade,e era só isso que me fazia ficar parada, olhando como é grandioso o nada,quando o tudo é o que menos se tem naquela hora.Talvez viesse pra me mostrar algo.Algo a resgatar. O som da minha janela quando se abria,a conduzia de imediato áquele pátio verde-musgo, onde o sol pouco ia; como se eu fosse a melhor parte do seu dia.Me batia um medo as vezes;nunca sabia o que de fato ela queria,porque a menina que falava com o olhar,dava ali teu limite: arredia e encantada,como fada.E foi numa tarde dessas,que pus as mãos sobre o queixo,indagando;invejando teu desleixo,naqueles pezinhos sujos sobre o chinelo inverso.Eu sorria e ela me devolvia com uma doçura jamais sentida.Coube a mim a estupidez quando dei por conta do café na minha mão.Seria o motivo a qual tão esperançosa, se punha em minhas minhas tardes,num tom de florescer?Fiz com as mãos um gesto,oferecendo-a e imediatamente ela correu.Pela primeira vez,se foi antes de mim.E eu diminui,diminui,diminui...ganhei a frieza do chão.Pela janela ainda aberta,respirei um aperto pra dentro,como se tudo em minha volta houvesse sumido naquele momento.Me doeu a razão: a menina não buscava o pão; ela emendava pedacinhos de risos pra dormir num dia bom.