Para a Donzela Sem Nome
Te daria meu coração, meu amor, para você cortá-lo em cubinhos e dele fazer espetinho pra assar na chama da tua vaidade. Te daria um braço, com a mão e os dedos e tudo, meu amor, pra jogar teus cabelos em cima das tuas orelhas. Amor, até o vento me insufla ciúmes quando o assunto é você. Até o sol, amor. Essa dupla que te acaricia e amorena me causa engulhos. Você me pertence, amor. Alto lá: não venha com essa de que ninguém pertence à ninguém. Assumo minha personalidade contraditória: ninguém é de ninguém. Mas eu te escolhi pra ser minha, mesmo não podendo tê-la. Te escolhi pra me acompanhar nas noites frias, nas madrugadas insones e nos dias desprovidos de sentido. Joguei o manto da minha vaidade no seu holograma e trabalho dia após dia no sustento da sua imagem. Fomento o seu fantasma com a minha ilusão e esperança de, um dia, ter você aqui comigo, em matéria, não somente em delírios oníricos ou devaneios quando o sol nasce e se vai. Sei que temos uma ligação bizarra; você como musa inspiradora e eu como palhaço escrevinhador. É cômodo para ambos pois alimento seu ego com as minhas palavras e alimento minhas palavras com o seu ego. É justo, até, mas eu quero mais do que isso. Quero como pessoa ao meu lado, suando, contando meninices, safadezas. Não quero continuar transpondo nosso abismo territorial com palavras. Eu quero você, amor. É difícil entender isso?