Ajuda-me

Ontem descobri que eu, que pensava conhecer muita ou alguma coisa, conheço nada. Descobri que aquilo a que se chama viver não é nada daquilo que eu acreditava. O pior é que eu acreditava que vivia uma realidade até exageradamente cruel, então eu me assustei quando diante do que vi tive que aceitar que vivia realmente um conto de fadas, ainda que fadas capengas. Há quem diga que se a vida dá limões, faça deles limonadas, eu chupei cada limão que a vida me deu “in natura”. O caso é que se chupei limão não foi por nada além de uma total ignorância da existência de açúcar, o que realmente exasperou-me. A existência do açúcar era-me tão óbvia que talvez por isso mesmo nem me lembrei do tal.

Não está faltando-me algumas coisas, na verdade eu apenas ainda não existi. Claro que vim vivendo até aqui, mas sem existir. Existir é muito diferente de estar presente pela vida. Não que eu saiba o que é existir, mas sei o que é não existir, isso sei.

Resolveram me seguir. Aonde quer que eu vá tem alguém olhando o que estou fazendo, isso está fazendo com que eu me sinta perigosa. Estão tentando perpetuar em mim um ser perigoso, não sei de que perigo, mas estão. Vou a qualquer lugar e logo vejo alguém ali, me espionando, vigiando. Eu devo ser louca, porque ser considerada insana traz muitos benefícios para várias pessoas no momento atual. A loucura não me assusta, mas que queiram me intitular a louca da vez está me assustando. Ser demente, socialmente é um tipo de morte, pré morte. A única saída para mim é o amor. O amar é algo tão simples que se tornou complicado, só sei ser complicada e mexer em coisas complicadas, complexas. Mas tenho observando que tal complicação tomou conta de muita gente. Amar não é, mas era, foi. Agora, para amar é preciso de um estudo, um tratado. E com minha capacidade para a complicação vejo-me Eu preciso aprender a viver com erros e culpas.

Viver sob o que determinam tem me custado à alma. Descobrir que as pessoas vivem com segredos guardados me faz ficar tão aturdida quanto é possível a uma criança. Então minha salvação está em cometer erros. Errar agora é fundamental para minha sobrevivência, assim como ter segredos bem guardados, mesmo que segredos mortais, mas é preciso que eu os tenha. Ter segredos, para mim é a mais difícil coisa que já possa ter feito. Eu amo a verdade, mesmo a verdade que não seja, mas creio ser. Estou ferida de morte e isso é literal e a única salvação para mim serão mentiras. Quando conto aquilo que se costuma esconder, sinto uma profunda paz e agora terei que aprender a esconder e disfarçar. Só há o problema que estas coisas, eu costumo trazer na cara, escancarada. Nunca me vi em tal situação. Preciso de um amor e um segredo. Preciso amar realmente e mentir de verdade, que contradição! Nem sei qual será o mais a parte mais complicada, já que para amar preciso ter o objeto do amor e quanto ao segredo eu já o tenho, mas não sei escondê-lo, não sei e não sei. Então preciso de ajuda. Ajuda-me? Se não com amor, ajuda-me com o segredo. Todos parecem ter segredos e eu não tenho. Como se tem uma mentira tão clara escondida? Não consigo apreender a ideia, quanto mais o fato. O amor, bem... Não sei onde irei arrumar mais esta complicação, as pessoas estão amargas e desconfiadas, assim como eu.

Então eu falo mais uma vez: - Ajuda-me!