Esferográfica
De frente a ponta fina de minha antiga amiga,
Da tinta que libertava minhas alegrias, e que hoje me tortura por dar vazão a minha tristeza...
Eis me aqui, estática diante de ti.
Apavorada diante desta cena, observo seu tom.
De um azul morto,quase tão morto quanto o que resta de mim.
Um vácuo, um rastro, um resto...
Do azul que me parecia alegre,
Alegre foi o que passou aqui.
Lembranças recentes, futuro esquecido.
Tudo se mistura diante de meus olhos trêmulos, embaçados.
Penso trocar talvez a cor, mais qual?
Qual se encaixa para a casca que me tornei hoje?
Que tom teria o imenso oco de mim?
Meus pés descalços fazem voltas ao redor da mesa.
A folha me encara, branca, pálida e agora de proporções giganstecas,
Ela espera sinais,símbolos de minhas dores, mais recebe apenas o incolor de minhas lágrimas.
Busco algo em mim, uma ponta de luz, reviro em minhas feridas ainda abertas, mais nada, nada...
Meu ouvido ainda surdo pelo som da punhalada.
O apito daquele trem que transformou meu mundo em nada.
O som do ´"até breve" que soluça um adeus.
Busquei tantas coisas,respostas dentro de mim que me acovardei diante de ti.
Minha velha companheira, minha amiga esferográfica; não vou toma-lá a punho.
Minhas mãos trêmulas são ainda incapazes de descrever,definir, dar forma.
Não quero dividir, essa tristeza que só a mim pertence.
Me perdi em meus pesadelos, dentro de mim.
Voltarei a te encarar,
Até lá amiga, até já...