configurações do sentir

Estou vidrada nas estrelas agora, percutindo o éter com o olhar, algo tão vivo a me delinear as memórias do que temos e do tempo de nossas comunicações enigmáticas. Engraçado, eu desviei meu olhar das estrelas e deparei-me com as sombras das coisas, agora eu olho as sombras e vejo as possibilidades... logo ali, próximo à cadeira que mamãe gosta de descansar, as sombras da cadeira tomam formas graciosas de flores. Na verdade um vaso inteiro com flores exóticas. E adiante, a sombra da bicicleta, lembra um camelo, desses que nos mata a sede com suas reservas de águas no deserto; as sombras do lustre são planetas, o asteróide B 612, os vulcões, o carneiro e a redoma de vidro também estão lá; o gato sobre o muro deixou correr sombras de pirâmides e meias, corria tão rápido que eu não pude definir todas as sombras que ele formava quando passava perto de um objeto

E assim eu esqueço a saudade, e tenho nestas sombras alegrias clandestinas que me tomam em rompantes criativos como estes, de perceber que as coisas se configuram de acordo com a verdade que atribuímos a elas. Eu olho a minha sombra e vejo uma borboleta, tá certo que eu ajudei a formar as asas com os braços, é que eu gosto de ser uma voadora. Outras vezes eu sonhei ser pássaro, e assim era fácil chegar às inúmeras janelas das almas e cantar todas as novidades do meu mundo. Tantas mensagens subliminares entre nós que eu julgo ouvi bem próximo as batidas do teu coração

Certa vez eu me detive olhando a água da chuva numa poça, o fato é que eu sentia a poça como um grande lago que refletia a minha história com a poesia e com almas lindas de amizade como a tua; eu me reconheci na transparência da água e fluidez do imaginário, tão real que me absorveu em meditações profundas além das folhas que flutuavam na liquidez etérea. Pensava na simplicidade das coisas, sobre palavras que podem mudar o instante do momento e também dos motivos, e percebi em meio ao tempo que agia, quando eu embora estática me movimentasse em inúmeros pensamentos, como a vida nos educa para o reconhecimento dos caminhos de felicidade. E agora, se tu me perguntares o que me faz feliz, eu posso responder que as possibilidades estão justamente na postura positiva que eu adoto frente à vida, do reconhecimento das preciosidades da existência, de agradecer a cada instante por estar aqui neste mundo de todos e tão repletos de ensinamentos, por possuir também o meu mundo e compartilhá-lo através da arte e das palavras, e saber que a felicidade não é apenas uma bonita palavra inventada (como antes eu pensava), mas algo possível quando abrimos a janela de nossos corações ao sol do conhecimento e do amor

Iva Tai