Alguma coisa sobre o amor
Você já amou alguma vez na vida? A expressão mais proferida em nossos dias, a mais banalizada - “Eu te amo” – parece ser a mais irreal, a sensação que temos é justamente essa, de que o amor é impraticável. Simplesmente, as pessoas o tornam ideal e etéreo ao invés de tentar vivê-lo sinceramente. O ato de amar, na verdade, é a coisa mais indizível da face da Terra. As pessoas que realmente amam sempre agem com amor e poucas vezes falam de amor. Falar de amor para aqueles que amam é como falar de seu segredo mais íntimo. É como vislumbrar o tesouro mais profundo de si mesmo. Não é tão fácil falar de amor como se imagina. Por isso, os amantes e os românticos desconfiam tanto desse nosso tempo em que as palavras valem mais que as atitudes. Quem ama não fala demais. Quem ama, age.
Dizem que os amantes, os sentimentais e os românticos são apenas lunáticos apaixonados pela fantasia, pela ilusão. Isso é mentira! É uma estratégia rasteira daqueles que não sabem amar com intuito de desqualificar àqueles que sabem. Amar é humano, mas nem todo ser humano está disposto a pagar o preço, a sofrer, a perseguir esta misteriosa qualidade por toda sua vida sem cessar, nem desistir. O amor parece um ponto de chegada em si mesmo, mas as pessoas querem usá-lo a todo tempo para conseguir alguma coisa.
O amor pode ser e é sentido plenamente por alguns, mas não é apenas um sentimento. É como uma busca constante de si mesmo através do outro, da pessoa amada. Quem ama nunca se cansa. Nunca se ilude com o desespero e nem com as expectativas. Não conhece bem o tempo, não entende o espaço, não gosta muito de ciências, não fala bem de teologia e não filosofa de forma lógica.
Imagine uma via de mão dupla. Veja que o tráfego se apresenta em dois sentidos. No amor, o dar e o receber: a troca. Mas, aquele que ama na verdade trafega em pista duplicada e importa-se apenas com uma direção: o dar. Nunca se importa em receber. Quem ama dá o que não é seu e recebe o que não lhe pertence. É capaz de construir castelos com data marcada pra cair só pra ver o que restará da frágil morada de pedra. Quem ama é capaz de repreender-se sempre e em qualquer situação independente de qualquer pessoa só para ter a certeza íntima de poder amar mais e sem repetir os erros. Sem impor barreiras a si próprio.
Saber amar é bem mais do que ler o capítulo treze da carta de Paulo de Tarso aos Corínthios. É conseguir achar o próprio Paulo um charlatão cheio de conversa mole, mas, ao mesmo tempo admitir que aquele texto está entre as coisas mais completas e maravilhosas que já foram escritas sobre o amor. Sendo assim, caro leitor, fica bem claro, depois de toda essa ladainha, que eu não sei mesmo amar direito. O amor parece que confunde a cabeça das pessoas, chegando ao ponto de, às vezes, a gente nunca entender mesmo o que está fazendo. A verdade é que para os que amam pouco importa entender direito o que se está fazendo. Amamos. De fato, é o que queremos. Isso é tudo e ponto final.