A peça que a vida nos pregou
A vida está aí para ser vivida e mais ainda para nos pregar peças.
Este ano a vida nos presenteou com uma doença na família e a escolhida foi minha mãe. Usei a expressão presentear para tornar mais ameno o fato. Há tempos, depois da menopausa, ela foi surpreendida com um pequeno sangramento. No início, achou que era algo passageiro, mas devido a insistência minha irmã resolveu levá-la ao médico. Foram receitados remédios, pomadas cicatrizantes, tudo foi corretamente usado. Entretanto, com a continuação do sangramento, mesmo depois dos medicamentos, foi necessário o ato cirúrgico: a histerectomia.
Foram dias e dias longe de casa para o tratamento. Para melhor entender, nós moramos em Coelho Neto-MA e o tratamento se deu em Teresina-PI, nossa cidade vizinha, lugar em que a medicina é consideravelmente avançada. Minhas duas irmãs foram acompanhá-la no pré e pós-operatório. Eu fiquei, pois moramos juntas eu, minha filha, uma tia e a dona da história, minha mãe. Minha tia necessita de cuidados redobrados devido a idade, portanto tive que ficar em casa para tomar conta de tudo, principalmente das plantas que são o xodó da minha mãe. Afinal, tudo deveria estar devidamente organizado quando ela retornasse.
Quase duas semanas se passaram. O retorno para o lar foi bem. Graças a Deus chegou linda, corada, um pouco debilitada, claro, também pudera com seus 70 anos e no auge dos seus quase 95 quilos, era impossível não ficar combalida. Mas a recuperação foi ótima, em casa perto dos filhos, netos, amigos, muita fé, acima de tudo, e assim Deus foi provendo e devolvendo a alegria ao nosso lar.
Minha mãe agora era nossa filha, os papéis havia sido invertidos. Era nossa filha-mãe porque nós a banhávamos, dávamos as sopinhas, passávamos talquinho, levávamos para tomar banho de sol e acordávamos altas horas para levá-la ao banheiro, lá ficando até ela efetuar suas necessidades. Quantas noites mal dormidas ela também passou para nos velar, o cuidado, o esmero para conosco não chega nem perto do que hoje fazemos, por mais que tentemos. Foi uma sensação de estar realmente cumprindo os deveres de filhas. Por tanto tempo ela cuidou de nós e hoje temos nas mãos essa bênção. Bênção, sobretudo, em podermos chamá-la de MÂE e FILHA ao mesmo tempo.
Contudo, a alegria perdurou pouco, pois após a análise do material retirado constatou-se o início de um carcinoma. Fomos avisadas pelo médico da necessidade evidente de trinta e duas sessões de tratamento radioterápico. Minha mãe foi poupada desse resultado, mas ficou sabendo que iria se submeter às radioterapias. Aliás, ela nem sabia o desconforto desse processo clínico, eu, aos poucos, fui relatando os efeitos colaterais. Pensam que ela se sentiu abalada? Que nada! Mulher forte assim estou pra ver.
E assim estamos nos preparando para a batalha, batalha essa que tem três fortes guerreiras: Eliran, a filha mais velha; Eliziran a do meio e eu, Elian, a caçula. As duas primeiras à frente e a terceira na retaguarda, todas munidas da mais poderosa arma: A ORAÇÃO.
Sei que não vamos passar um Natal igual aos anteriores, porém alegro-me diante dos acontecimentos e não pergunto a Deus por que logo conosco, digo a Ele obrigada, Senhor, por ser conosco esse fato afinal, não somos melhores. Tantos natais passamos sem preocupações, alegres, radiantes, enquanto tantos passavam sofrendo. Agora é nossa vez não de sofrermos, mas de nos alegrarmos mesmo diante das dificuldades e sabermos, com galhardia, carregar nossa cruz assim como Cristo fez, sabendo que mais adiante a vitória estará a nossa espera.
Coelho Neto, 23 de novembro de 2010.
11h7min
Elian Maria Bantim Sousa