Ao pequeno Matheus
“O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida”.S. João 6:63.
Há um tempo em que caminhar juntos parece ser a única verdade e que ninguém nos há de tirar a companhia daqueles que são a nossa vida. O convívio é tão natural que se pudéssemos guardaríamos no fundo do armário protegidos do resto do mundo, aqueles a quem dedicamos tanto amor; presente divino com quem se aprende o verdadeiro sentido do que é o amor e que nos fez crer no amor Daquele que nos criou à sua imagem e semelhança.
Ai vem o Pai Eterno e toma para Si de volta, àquele de quem tomamos conta por um tempo em nosso abrigo. Não sem antes impor ao coração e aos nossos olhos assistir ao seu sofrimento. A dor é tão imensa que parece morrer ali a nossa fé no bem e a esperança na felicidade que sempre acreditamos termos sidos criados para ela. Então dizemos com uma pontinha de mágoa e revolta: - O Pai me deu; o Pai me tirou. Somos humanos; a dor é própria da nossa visão limitada, a rebeldia também. Por isso choramos; por isso sofremos.
Hoje acordei e lembrei-me de você meu pequeno Matheus. Mesmo com o coração cheio de dor ao olhar para o quarto vazio da tua presença, abracei a tua lembrança e uma força que vem não sei de onde me confortou e fez renascer a esperança em um mundo paradisíaco. Lembrei-me de que enquanto eu sofria vendo o seu corpo cheio de inchaços e feridas, mantido por aparelhos que respiravam em seu lugar, Deus te mantinha impassível, indiferente à dor, às alegrias ou aos desgostos; imune às paixões; sereno. Chorei e agradeci ao Criador por te manter desligado de todo o sofrimento. Acreditei na justiça contra o mal que queria te fazer cativo. Foi por isso que Ele te chamou de volta. Para não dar ao mal o prazer de ver o sofrimento de um anjo criança. “Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestassem nele as obras de Deus” S. João 9:03.
Uma canção foi se delineando em minha mente e o meu coração pode então descansar sereno.
“Tenho cá prá mim, que estás lá no céu
Numa bicicleta a pedalar.
Nuvenzinhas de algodão,
Lua de papel.
Deus lhe toma pela mão
Prá brincar lá no carrossel.”